quinta-feira, 28 de novembro de 2013

MENINOS, EU VI!
Um velho Timbira, coberto de glória,
Guardou a memória
Do moço guerreiro, do velho Tupi!
E à noite, nas tabas, se alguém duvidava
Do que ele contava,
Dizia prudente: - "Meninos, eu vi!
Gonçalves Dias



A Câmara Municipal de Volta Redonda publica pomposos convites para suas sessões deliberativas. Páginas inteiras. É muita coragem! Não sei porque fazem isso, com a gente. O povo vai lá e o espetáculo não compensa. Talvez a Câmara só pretenda agradar aos jornais. E é possível que agradem. Vou perguntar ao Luis Alfredo do jornal Aqui, como é que é esse negócio. Debaixo desse angu tem carne. E ele sabe das coisas. Quem não manja nada disso é o Jonas Martins, Prefeito de Barra Mansa. Custa-lhe entender certas coisas. Acho que seria bom ele ouvir o mulato Dorival Caymmi “com qualquer dez mil réis se faz um vatapá”. É isto mesmo. Fica barato.


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Fiz um teste. Na semana passada, fui à câmara municipal. Confesso que aquela casa já foi melhor. Tá tão ruim que eu tive que dar razão ao Vereador Baixinho do Estádio. Ele reclamou muito de um fedor local. Ficou brabo. Disse que ia fazer seguro de vida, o escambáu. A Mesa contornou o caso mais ou menos botando a culpa no carpete. Disse que era de lá que vinha catinga. Eu acho que não. Não parou por aí. O Vereador Fernando Martins interrompeu a discussão sobre aluguel de frota pela Prefeitura, e pediu pra mudar de carteira. Queria era se sentar ao lado do coleguinha Pedro Magalhães. O presidente concordou: “Pode sim, mas leve seus cadernos e lápis de uma vez.”


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E no entanto, aquilo ali já foi palco de discussões sérias. Um dia mesmo eu vi um vereador socar a cara do outro com um murraço. E o agredido, com o punho cerrado para o alto, “V. Excia tem que respeitar a minha excelência!” Agora, mudou tudo. O Prefeito precisava de um menino para candear aquela manada, que de uma hora para outra podia estourar. Aí, surgiu o Zezinho da Ética que ainda tinha a vantagem de trazer a igreja a tiracolo. Nas mensagens polêmicas, aumentava a venda de narizes de palhaços e línguas de sogra no mercado. Era o efeito do pelotão da Ética que se paramentava para o confronto. Negócio sério. E quando não conseguia se impor, Zezinho recorria ao Ministério Público. Assim, ele veio se impondo e se tornou respeitável. Respeitabilíssimo! Terminou conhecido como o caveirão do legislativo. Trabalhou muito. Agora, com a América Teresa, na presidência, ele se dá ao luxo de tomar água de coco numa beira de praia.
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Até domingo

domingo, 17 de novembro de 2013




No último dia 8, a Prefeitura de Volta Redonda juntou as forças para dar combate a um crime que ela mesma comete e de forma imbatível. Medalha de ouro! Como um cachorro correndo atrás do próprio rabo pretende acabar com essas festas que trazem transtornos para a cidade. Não faltou ao encontro nenhum dos convidados e, talvez, cada um tenha levado o seu bornal carregadinho das tantas reclamações que recebem no seu dia a dia. Pior ainda se não as recebessem. Há muito do que reclamar. Mas, se for mesmo o caso, é só ler as cartas nos jornais, procurar o Ministério Público. As reclamações estão por aí. Contra a Ilha São João há um monte. Eu mesmo assinei uma delas acompanhado de mais quatrocentas assinaturas solidárias. As pessoas que participam dessas festas, enchem o pote. Retornam embriagados, fazendo algazarras, urinando, defecando e transando pelas ruas e praças quando encontram vagas. É muita gente. Os carros entopem nossas vias dificultando a chegada ou saída de moradores dos bairros. Mas se não acreditarem nessas informações é só perguntar a Guarda Municipal. Tudo isto acontece no nariz dela. É em frente ao seu quartel. Pode ser até que não vejam essas cenas, mas é impossível que não escutem os gemidos. Essas festas começaram com a Feira da Primavera... aí tomaram gosto pela coisa e agora é o que é. Tem a agenda fechada pro ano todo. Abriga até festas de formaturas de outras cidades. Entretanto, um dono de bar que ponha um aparelho de três em um sobre o balcão sofre de pronto a ação dessas forças. Claro que a gente aplaude quem faz valer a lei do silêncio. Mas as festas no PET, as festas na Ilha São João e no Comercial azedam qualquer elogio que se pretenda a essas instituições. 




Antonio Donato é um mensalinho. Seu sonho talvez fosse o de se tornar um Zé Dirceu sem hora para o banho de sol. E, convenhamos, tinha o perfil completo para se tornar um grande mensaleiro. Homem de confiança do partido, ex-tesoureiro de Lula e Dilma e considerado imexível por Fernando Haddad. Quer mais? Faltou-lhe somente a oportunidade. Quando seu nome se viu envolvido na teia da corrupção dos fiscais, quiseram botar na conta do prefeito anterior - Kassab. Pra que!? O trato não era esse. Kassab só faltou chama-lo de santo. Seria  desperdício de tempo. Ninguém acreditaria nele. Disse, isto sim, que o problema era da gestão atual e que esse negócio de herança maldita quem pegara mesmo foram  ele e o Serra, como sucessores da D. Marta Suplicye da insopitável sanha petista por escorchantes impostos. Ela ficou até com apelido de Martaxa.  Haddad estava lá como sub-secretário de Finanças. Quis responder mas era um risco. Mais um pouco, Kassab chegaria ao atual IPTU de São Paulo. Enfim, Dilma e Lula mandaram ele botar o galho dentro. Podiam perder votos. Por isso, ou por aquilo o escândalo cresceu. A última vez que eu somei estava em R$ 500 milhões desviados. E, logo se via que Donato não era nenhum primário. Ninguém começa assim. Muitos começam roubando galinhas. Não resistiu. Entregou uma carta ao prefeito: “Se é para o bem de todos, digam ao povo que fui!”. Haddad, acenou-lhe com um lenço branco. O PT também... E a gente sem poder dizer que a história agora é outra. Né, não. Mais hoje, mais amanhã a gente vai ficar sabendo de outros roubos, quiçá maiores. Muito maiores. 




terça-feira, 12 de novembro de 2013

CIDA SOZINHA DERRUBA PAIVA E NETO



O Prefeito é o mentor intelectual de uma ala no PT-VR. Fica assim meio de longe com ar de quem não quer nada, mas dá mole só pra você ver uma coisa! Ele tem ali um congá. É santo naquele terreiro e o Paiva é seu cambono. A   imposição das suas mãos consagra qualquer mortal. Foi assim que o modestíssimo Vagner se tornou candidato a presidente do diretório municipal do PT, a figura mais importante do partido. Uma outra corrente é a da Cida Diogo que, só para mostrar que tem bala na agulha, lançou o, também modesto, Dejair Martins. Só que o Dejair já tem história para contar. Uma vez ele foi até escolhido para vice na chapa com o Neto. O Neto riu de segurar a barriga. Pensou que era piada. Eu também. Neto, todo mundo sabia, além da amizade com o Paiva, precisava de votos e o Paiva lhe garantia o voto do Padre Juarez Sampaio e do Ítalo Granato. Agora, o Dejair trazia o único e escasso voto, o voto da própria Cida. Restou a este grupo a quarentena dos contaminados. A Cida ficou isolada, em quarto bem fechada, sem porta nem janela. Sem a mínima aproximação com a administração municipal. E, consequentemente, sem chances de boquinhas para o seu pessoal. Pode, quando muito, dependurar uns dez ou vinte lá na Assembléia Legislativa. Mas isto é pouco perto de uma prefeitura como a nossa. Há, ainda,  uma outra corrente, a Democracia Socialista, que apóia Geslia Marques e mais um outro candidato de quem me esqueci do nome. Não passam de desconhecidos. A coisa está entre o Paiva (Leia-se: pode me chamar de “ratinho” que é a mesma coisa) e Cida Diogo (Leia-se: não me chamem de feia que eu viro bicho). A proposta de Paiva é a mais atraente. Ele quer a Prefeitura para o partido. Êta coisa boa! Já pensou que maravilha o PT mandando? Assim, poderá fazer crescer a militância  à vontade. Na prefeitura há lugar pra todo mundo. E ainda fará um imenso favor ao deputado Edson Albertassi, com  candidato majoritário, no PT. Albertassi um dia agradecerá essa traição. Ele ia pagar um vexame danado saindo candidato a prefeito em Volta Redonda.
NOTA: Esta crônica foi escrita na última quinta feira, três dias antes da convenção partidária. Deu Dejair para presidente. Diferente do que aqui fora previsto. Talvez isto seja o aviso de que o Neto está mesmo no sal e de que, em breve, será despejado da prefeitura. Deus escreve certo por linhas tortas. Vou correndo avisar o Luís Alfredo do Aqui. Ainda está em tempo.



Aécio acusa D. Dilma de fazer leilão na Petrobrás. Fernando Henrique Cardoso diz que não é pra ralhar com ela, não, que ela tá simplesmente imitando o PSDB. Aécio é muito distraído. Também, D. Dilma tinha dado um pito no Obama por conta de umas bisbilhotices que ele faz nas nossas intimidades. Coisa feia. Ela até falou que não iria mais a casa dele enquanto ele não pedisse  desculpas. A gente foi dormir com orgulhoso daquela valentia feminina. Mas, no outro dia, acordamos desacorçoados com uma notícia na Folha de São Paulo. A notícia era a de que também nós espiávamos a vida dos outros pelo buraco da fechadura -  diplomatas da Rússia, do Irã e do Iraque estavam entre os nossos vigiados. Aí, foi que o ministro da justiça José Eduardo Cardoso mostrou que é um homem bem treinado. Do jeito que a bola foi, voltou. Ele falou que nós não tínhamos espionado, mas contraespionado. E que, portanto, era um ato não só legal, mas altamente recomendável. Todos os países deviam praticá-lo. Uma coisa é uma coisa outra coisa é outra coisa. Contraespionagem, explicou, é quando você suspeita que o estão espionando aí você espiona o suspeito para ver se ele realmente está espionando você. É. Mas apesar dessa “inquestionável” legalidade o governo promete arrancar o couro do autor desse vazamento, da mesma forma que Obama pretende ferrar o Edward Snowden. Tutti buonna, gente! Aliás, a operação foi batizada de Miúcha, o mesmo nome de uma das irmãs de Chico Buarque, o censor. Tá tudo fechando.



E Bill de Blasio é o novo prefeito de Nova York. O eleitorado confirmou o que até as pesquisas já falavam.  Blasio propôs o céu e o amor para aquela cidade e o povo disse que quer. Diz que vai acabar com as desigualdades entre os habitantes. Os ricos pagarão tributos mais pesados e os pobres receberão mais benefícios. Os inquilinos serão resguardados da sanha dos proprietários e os trabalhadores, sob suas asas, estarão mais protegidos do que pelos sindicatos. Tudo novo, no novo reino. Os professores terão a sua solidariedade e os imigrantes ganharão o status de cidadão americano. No mais, no velho estilo populista, concederá o mais amplo e irrestrito atendimento ao que se chama pauta progressiva - saúde, alimentação, moradia serviços essenciais... para todos. Parece até que fez um estágio no Brasil. Só não falou : “vinde a mim os oprimidos...” porque teve humildade, mas como um São Francisco redivivo, prometeu para o seu primeiro dia de governo, a extinção dos serviços de charretes no Central Park. Os cavalos irão curtir sua aposentadoria  no santuário eqüestre e os 150 cocheiros, então desempregados, serão aproveitados na condução de pequenos veículos elétricos. E assim pretende  fazer a “República Popular de Nova York”, conforme o dizem os republicanos que governaram a cidade por mais de vinte anos e conseguiram abaixar o índice de criminalidade com o Tolerância Zero. É o avesso, do avesso, do avesso...  


domingo, 3 de novembro de 2013

TEMPOS BICUDOS





Foi uma baita de uma euforia  quando o caminhão da SMO chegou aqui na Barreira Cravo. Veio cheiinho de operários. Dava gosto de ver. Eu bem que quis contá-los mas não deu jeito. Muita gente veio pra rua ver aquele mutirão. Organizou-se, logo, um pelotão para ir à padaria comprar bolo e leite para a moçada. Um homem jurava que aquilo era por um pedido seu - ele quer ser candidato a vereador; outro puxava brasa para América Teresa  - Teresa é vereadora.  Eu, no meu canto, cismando: “Aí, tem dente de coelho.” Se fosse varredura de uma rua, uma capina ou uma troca de lâmpadas... tudo bem. Dava pra aceitar. Até podia ser coisa da Vereadora. Por que, não? Mas aquele mundaréu de gente e ferramentas só podia ser coisa de gente grande. Gente grande mesmo. Maior, muito maior, do que esse prefeito, que esqueceram aí, no cargo. Digo isto assim não é por nada, não. É que o prefeito anda tão desacorçoado que ele está só aguardando a ordem para ir embora.  Já não move uma palha, sequer. Por vinte anos pelejou com a Rodovia do Contorno, sempre adiando sua inauguração. Vai ser em março, passou pra abril; depois, de abril pra maio. E veio assim de mes em mes, de ano em ano, de década em década. Cansou. Não quer mais nada.  E, de fato, esse movimento na Barreira Cravo não tinha nada a ver com ele.  O caminhão entrou na rua 5 e parou em frente ao nº 66. E pronto, desfez-se o mistério.  O pessoal desceu da carroceria e começou  a trabalhar. Tudo, então, tornou-se compreensível e até comovente. A obra não tinha nada a ver com o bairro, mas com uma moradora, a filha do Secretário de Obras, Uóxinton Granato. Era um mimo que um papai fazia pra filhinha do coração. Um eleitor-contribuinte falou, muito emocionado, que faria o mesmo por sua filha, também.  A dona tá reformando a casa e o papai veio ajudar. Tá ficando linda, que só vendo! Qualquer um que passar por ali vai ver que não estou mentindo. Esta administração municipal tem muito gosto! Não sei se vão colocar placa lá - Honestidade e Competencia. 




Aécio Neves é, rigorosamente, um homem do seu tempo. Se ele aparecer com um piercing no nariz, um alargador na orelha ou próteses subcutâneas todos compreenderão - é um jovem. E ele próprio bateria no peito e diria - "Eu sou um jovem eterno". Todo mundo sofre com a passagem dos anos, até o PT enrugou. Mas o Aécio...  Eu o vi, pela primeira vez, na TV, dando entrevistas e sendo fotografado quase grudado no caixão do seu tio Tancredo Neves. Ali, havia mais flashes e mais spots. Era um menino encantado com tantas luzes. E, de lá para cá, esse encanto jamais se desfez.  Foi feito deputado, presidente da Câmara Federal, Governador de Minas Gerais. E, agora, quer ser presidente da república. Mas sempre, sempre, sempre a mesma pessoa. Como diria a Professora Marlene Fernandes, um jovem correndo atrás da utopia. Tem gente que é assim obstinadamente jovem. Eu fico bobo... E, no caso do Aécio, ouso dizer, que ele está cada vez mais jovem. Anda mesmo metendo a mão em cumbuca.  Foi coisa de menino imaturo esse seu breve entrevero com a não menos destrambelhada Dilma Rousseff. Ela fez aquele incrível leilão de um  pobre e solitário lance. Aécio não perdeu tempo. Juntou a turma da imprensa e disparou seu  protesto juvenil:  “Temos de reestatizar a Petrobrás e entrega-la novamente aos brasileiros.” Foi na mosca. Tem muita gente que gosta disto. Ainda lambia as pontas dos dedos quando o telefone tocou. Era o Fernando Henrique Cardoso irritadíssimo. Nem ouviu saudação nenhuma; sentiu foi um coice no pé do ouvido: “Fui eu que criei esses leilões, que o PT condenou e, agora, aplica como se estivessem inventando alguma coisa”. E bateu-lhe o telefone. Aécio ficou com um pedaço de desculpas dependurado nos beiços. Como o Aécio não muda, não sabe que as coisas mudam. Ele não sabe, por exemplo, que o PT virou uma espécie de PSDB do Paraguai. 




O atacante Diego Costa meteu bola nas costas de Luís Felipe Scolari. Ou não, como o diria Caetano. Felipão não gostou nada, nada, da audácia do menino. Onde já se viu uma coisa dessas de recusar um convite para vestir a amarelinha? Diego, entretanto, não achou nada demais. Recusou o convite pronta e, porém, educadamente. Diego é brasileiro mas nunca jogou no Brasil. Vive na Espanha onde é amado e saudado nas ruas como um dos seus principais atletas; no Brasil, seria mais um disputando a mesma camisa.  Diego pensou, pensou, pensou e resolveu ficar onde estava. Pra que! Felipão não teve os mesmos bons modos do atleta;  virou bicho. Fez lembrar Fidel Castro querendo de volta os seus boxeadores Erislandy Lara e Guillermo Rigondeaux. Eles estavam no Rio de Janeiro, representando Cuba no PAN e resolveram fugir da concentração. Autoridades brasileiras os caçaram como a ratazanas e logo os devolveram em avião flertado na boca da madrugada. Presta atenção gente que tem maus exemplos fazendo seguidores no Brasil.  





Em 1982, Miro Teixeira, deputado federal, começava a ser assediado por “Luas pretas”,   um grupo em cujas afirmações não se punham dúvidas. Se ele falasse que a lura era preta todo  mundo acreditava.  Foi motivado por essas convicções que Miro enfrentou  Sandra Cavalcanti, no programa Aqui e Agora. Eram candidatos a Governador do Estado do Rio de Janeiro e faziam o primeiro debate.  Miro, com todas as letras e nenhuma ressalva, acusou a professora de ter jogado, no Rio da Guarda, mendigos e moradores de rua que viviam no Rio de Janeiro. Sandra trouxe de volta para o segundo debate aquela mesma denúncia fielmente redigida.  Colocou-a diante de Miro e falou:”Trago as suas denúncias por escrito. Quero ver você assinar!” Miro, sem pestanejar, falou – “Assino sem ler!” E assinou. Veio o processo e ele foi condenado. Desesperado pediu a um amigo que fosse à Sandra demovê-la daquela ação. Sandra, desprendida e generosa, aceitou a retratação e retirou o processo. Ela é mesmo desprendida. Continua pobre, morando numa casa modesta na rua Peri onde vive da aposentadoria. Vale a pena lembrar uma história dessas, uma pessoa dessas, nesses tempos tão bicudos.