domingo, 22 de junho de 2014

AGORA, SÓ DAQUI A SEIS MESES




Deu no jornal Tempo que, em Santa Maria (RS), há uma lei que proíbe latidos de cachorros após às 22horas. Eu acredito. Tenho visto muitas coisas neste mundo. Na nossa Câmara Municipal quiseram inventar uma tal de Tribuna Livre. Lá, o mais comum dos mortais poderia usar da palavra. Parece que opunham restrição ao uso do palavrão. No mais, a palavra era livre. A Câmara Municipal anunciaria previamente o orador da noite: Hoje, com a palavra, Zé das Couve. Imagina as mudanças na vida do povo após esse discurso. Nenhuma! Vejo o povo falar nos ônibus, nas filas do banco, nos supermercados e nada. Foi muito bom, portanto, os vereadores  Tigrão, Simar, Francisco Novaes, Francisco Chaves, José Augusto, Neném, Pedro Magalhães, Maurício Batista, Adão Henrique, América Tereza e Dinho votarem contra o projeto. O nosso legislador de controle de qualidade. O negócio não é apenas produção. Segundo o Tribunal Federal de 2000 a 2010 foram criadas 75 517 leis no país. Uma média de 20 novas leis por dia. Com Sol ou com chuva; com jogo do Brasil ou sem jogo do Brasil, a cada dia 20 outras novas leis. Está ficando difícil. Já existe dia dos médicos até o dia do pedreiro meia-colher. É, portanto, muito natural que vereadores, de vez em quando, dêem um pulo no lixão da câmara à cata de alguma mangonga. Tal se deu com o Vereador Jari que achou essa Tribuna Popular. Aparentemente é uma bobagem. E, aqui, as aparências não enganam. É mesmo uma bobagem! Talvez nem o próprio Jari tenha a mais pálida vontade de aprová-la. Só assim poderá voltar com ela a cada seis meses e, assim, vir vivendo. O Paiva foi esperto. Passou todos os seus mandatos botando e rebotando esse projeto em pauta. Uma vez me encontrei com Ítalo Granato, pedindo votos para o Paiva. No centro de uma rodinha de eleitores ele explicava que votava no Ratinho porque ele defendia a criação da Tribuna Livre. Ele chama o Paiva de Ratinho. O Ítalo sabe muita coisa que eu não sei. O que sei mesmo, com toda a certeza, é que esse projeto tem ajudado muita gente boa. No tempo do Sarkis já era uma idéia velha. Mas, naquele tempo, até fazia sentido. Éramos todos mais ingênuos. Havia três vereadores muito moleques – Luís Carlos Sarkis, Julio Ferreira e Vander Lucas. Todos imberbes. O Vander Lucas, na verdade, tinha uns bigodes a La Nietzche. Mas, espiritualmente, era um glabro mancebo.    Vander Lucas se tornou dono de uma funerária; Luis Carlos Sarkis chegou a Presidente da Casa. Está lá na parede o retrato dele. Rechonchudinho. Precisa de ver.  Julinho Ferreira perdeu a eleição pra prefeito e foi morar nos Estados Unidos. Também, apenas a Maria de Lourdes Lampert acreditava na candidatura dele; ela era sua vice. Naquele ambiente de sadia molecagem, Aristides Martins quis colocar fraldas nos cavalos e alguém falou na tribuna do povo. Zezinho da Ética correu e entrou na fila da inscrição, onde está há trinta anos. Zezinho é eterno. Ele é assim como uma Dodora com certificado de reservista. 


AGORA É NÓIS!

Capitulo II



Na campanha e na posse de Lula, a palavra que mais se falou foi “mudança”. Luciano, da dupla com Zezé de Camargo, era quase um coqueiro naquela paisagem. Falou do seu “Orgulho em participar do momento de mudança no país... quero contar essa história aos meus filhos e netos no futuro”. O cantor Gilberto Gil não deixou por menos. Esqueceu o seu jeitão de baiano e saiu em desabalada corrida do palco. Ia tomar posse também. Arranjara um bico no novo ministério – Ministro da Cultura. No seu discurso, usou palavras como “transculturativas”, “ouriçar planetariamente”... palavras que não querem dizer absolutamente nada. E, pior ainda. Embora só ele as empregasse já eram palavras muito usadas. Haviam até figurado em programas de humor. Chico Anísio muito se serviu delas no seu Chico Total, na TV. Nisto, Gilberto Gil não mudara.
Toda a turma estava Ciro Gomes, Ministro da Integração Social, prometia acabar com os transtornos das chuvas cíclicas; Cristóvão Buarque, Ministro da Educação, prometia acabar com o analfabetismo; Palocci, Ministro da Fazenda, prometia acabar com a pobreza; Lula, o presidente de todos nós, prometia acabar com a corrupção. Enfim, era barba, cabelo e bigode. Antes de mim, o caos. Tudo tem seu tempo e o de Ciro foi o mais curto. Duas semanas depois da sua promessa , novos desabamentos ocorreram em Minas Gerais. Foram vinte e seis mortos, setenta e quatro feridos, setecentos e setenta e quatro desabrigados e umas duas dezenas de desaparecidos o saldo da tragédia. Tres ministros foram prestar solidariedade aos mineiros. No meio deles, Ciro Gomes.
Na manhã seguinte, 500 garis cuidavam da limpeza na Esplanada. Um punhado de bandeirinhas do PT, faixas alusivas ao presidente, cartazes, santinhos tinha que ser removido. E, ainda, havia um jardim para ser replantado. Na frente da Granja do Torto ainda havia gente. O Presidente receberia visitas oficiais em casa. Hugo Chávez foi o primeiro a chegar. Reclamou da greve geral que enfrentava em seus país, pediu ajuda pra enfrentar a oposição e falou, também, da Petroamérica, uma integração das empresas de petróleo. O último visitante foi Fidel Castro que terminou cerrando a janta. Fidel estava como que na própria casa. Assistira a posse de Cristóvão Buarque ao lado de Maluf e ACM. Não consta que tenha se sentido incomodado. Lá fora, os talibãs do PT não toleravam aquela aproximação. Aguardavam na saída. Queriam aplaudir o cubano e hostilizar os brasileiros. É da vida.
Quinze dias depois, junto com aquelas chuvas que caíam em Belo Horizonte, um banho de água fria desabava sobre a massa trabalhadora. Jaques Wagner, Ministro do Trabalho, dizia à Folha de São Paulo da sua intenção de extinguir a multa de 40% nas demissões desmotivadas: "A forma melhor seria não ter esse ônus na demissão". A CUT chiou, a Força Sindical chiou. Foi um auê! Até o Presidente do Tribunal Superior do Trabalho, Francisco Fausto,  soltou os cachorros: “Ela é inegociável. O ministro terá de voltar atrás, porque disse uma bobagem". E ele voltou.

Antes que se recuperassem o fôlego, um novo rebuliço: Lula ia mexer na Previdência. Iniciariam as conversas em fevereiro e até junho o projeto estaria prontinho no congresso. O Presidente tinha pressa. Queria ver sua nova lei funcionando em 2004. Ano Novo, Vida Nova. Marco Aurélio de Mello, Presidente do Supremo Tribunal Federal, considerou aquilo uma brutalidade. Para ele, qualquer mudança que não respeite direitos adquiridos só pode ser feita por uma revolução contra o estado de direito estabelecido: "Não chego a dizer que são propostas demagógicas, mas você só pode fazer isso quando vira a mesa e há uma revolução do poder constituinte originário", declarou Mello, ao jornal O Estado de S. Paulo. Lula diz que vai debater com a sociedade. Mas, nos bastidores, ele sabe direitinho o que quer. Até se diz que todas categorias de servidores do país serão incluídas na reforma mesmo que eles tenham que abrir mão de benefícios. E ainda estávamos na primeira quinzena do seu mandato.

quarta-feira, 11 de junho de 2014

NOTAS

           Ao estimado leitor,
            Pretendo, aos poucos, colocar este blog em dia. Aviso que nem o Lula, nem o Neto, nem o Zezinho da Ética tem nada a ver com esses atrasos. São contingências da vida que espero resolver aos poucos, como estou resolvendo. Aproveito para outras explicações. Um amigo. Eloy Marcondes, me sugeriu que fizesse um retrospecto do governo do PT. Achei interessante e devo fazê-lo em capítulos. Assim, se explica a segunda nota dessa postagem. Outros capítulos virão. A primeira nota é minha versão municipal do Lepo, Lepo. Nós também dançamos. Abraços

Neto, Neto

 
Ah... quase que prometeu chover
Tá todo enrolado
Com mandato cassado
Ah... Não tem pra onde correr
 
Tá sem deputado
Já lhe tomaram o cargo
Agora, é só mandar ele embora
 
Sai, sai, sai, sai, sai da cidade!
Sai o Prefeito e sai o vice
Mas sai de verdade!...
 
Ele não tem cargo
É só xaveco
Quem ficar com ele é só porque gosta
do seu
rá, rá, rá, rá, rá
Lepo, Lepo
É tão gostoso o colo do
rá, rá, rá, rá, rá
Neto, Neto
 

CAPÍTULO I

É NÓIS, AGORA!




O medo andava assustado naqueles dias. O Lula, Profeta de Garanhuns, bem avisara que a Esperança ia botar o medo para correr.  Xô Regina Duarte! Havia 13 anos que a Namoradinha do Brasil mostrara o seu pânico com aquela história do Lula Presidente do Brasil. Muita gente boa se solidarizou com o susto da moça. Ela era linda! Oito anos depois, veio a vez de Mário Amato, Presideente da FIESP – homem sisudo, vivido – mostrando medo também e que não estava sozinho. Disse que 800 mil empresários deixariam o Brasil, caso o PT ganhasse a eleição federal.  Mais outros quatro anos se passaram e a gente viu que cara feia, cara bonita adianta pouco e, às vezes não adianta nada. Luíz Inácio da Silva, se tornaria o nosso 39º presidente.
Muita coisa havia mudado. Muita mesmo! Agora tudo virou festa. Num palco Zezé de Camargo e Luciano, Fernanda Abreu, Zeca Pagodinho, Maria Betânia, Gilberto Gil, Bateria da Mangueira estavam afinadíssimos com o povo que cantava, gritava, dançava, pulava e aplaudia. E o delírio ainda mais cresceu quando o novo  presidente passou num Rolls Royce aberto, rumo ao parlatório. O automóvel ziguezagueava, no meio da multidão. A poucos metros dali, a faixa presidencial o aguardava e ele a vestiria sob o olhar emocionado de 120 mil pessoas. Uma platéia de Fla X Flu. Pra andar um pedacinho daquele levou o maior tempão. Às vezes, era parado pelas pessoas, e até pelo enguiço mecânico. E lá ia o carrinho. Getúlio Vargas o ganhara de presente da Rainha da Inglaterra em 1952. Estava fora de uso e teve que ser empurrado, no trajeto.
Aquilo mexia com o imaginário. Um homem trocando o piso sujo da fábrica pelo asséptico tapete do palácio era de uma simbologia vasta. Servia como bom exemplo para o capitalismo – o homem que se fez a si mesmo. O flagelado que chegou a presidente. Mas sob o olhar daquela gente na capital era um novo que nascia. Em cada olhar se via: “Agora, é nóis!” Tanta gente que sentara naquela cadeira – civis, militares, médicos, advogados, engenheiros... – e uma demanda popular foi só se acumulando. Agora, se ia ver uma coisa só.  Agora, seria uma enxurrada.
A Reforma Agrária era um desses exemplos. Na década de 1950 ela já aparecia em discursos políticos. Em 1962, Jango Goulart a encampou com tanta força que muita gente passou a pensar que a reforma agrária era uma invenção dele. Os comunistas já a haviam tentado e abandonado. Aqui, até o PSD, partido dos latifundiários,  a defendia e apresentara projeto para legalizá-la. E o IBAD (Instituto Brasileiro de Ação Democrática), a colher-de-pau que o governo americano metia no Brasil, a promovia nos seus simpósios.
Havia, entretanto, um muro separando aquela gente toda. Era o Artigo 141, parágrafo 16 da Constituição: "É garantido o direito de propriedade, salvo caso de necessidade ou utilidade pública no Brasil. Ou por interesse social mediante prévia e justa indenização em dinheiro". A indenização a dinheiro era que pegava. A esquerda pensava diferente. João Pinheiro Neto, presidente da SUPRA, apresentou um  projeto ao governo: "Desapropriação 20km de cada lado das rodovias federais, das rodovias e rios navegáveis"  . No dia 13 de agosto de 64, Jango o assinou, no comício da Central. Foi aprovado pelo Congresso. Até aí morreu o Neves. Mas outros presidentes continuaram a idéia. Castelo Branco, por exemplo, criou o INCRA e o Estatuto da Terra e encaminhado um projeto de reforma agrária.

Havia, também, demandas impopulares esperando a vez. Fernando Henrique Cardoso promovera algumas delas. As mais pesadas foram as privatizações, que viraram seu epítome. É só falar em privatização que se lembra de FHC. Mas esse negócio de privatizar começou mesmo com o Collor de Melo. E, ao contrário do que muita gente pensa, foi Itamar Franco quem privatizou a CSN. FHC apesar da sua empáfia não fez tudo. Durante oito anos lutou para suspender a idade mínima da aposentadoria. Não o conseguiu. Esta reforma estava também na fila.