domingo, 6 de julho de 2014

VEJA, ILUSTRE CAVALHEIRO, O BELO TIPO FACEIRO AO SEU LADO


Ilustração Blog Mudança e Divergência
Maluf, definitivamente, veio para explicar e não para confundir. Tá tudo junto e misturado. Quando ele falou que também é de esquerda,  minha vizinha teve um estalo – “Ah, então é isso???” Ela é eleitora da esquerda. Há meio século vota na Dodora. Mas, agora, eu não sei, não; ela anda muito agradecida ao ex-governador de São Paulo. Foi ele quem lhe tirou a venda dos olhos. Deus, guarde o Maluf! Enfim, ta todo mundo sabendo que esse negócio de esquerda é uma baita de uma corrente que pega gente. Uma corrente que vai desde Fernando Henrique Cardoso, o mais culto dos nossos ex-presidentes, até o Lula na outra ponta. Antonio Gramsci foi quem os fez irmãos. Karl Marx tinha na guerra uma via expressa para o comunismo. Gramsci, ao contrário, achava um desperdício perder tanta mão de obra assim. Não! Precisava mantê-la viva e trabalhando. Bastava emburrecê-la. E, depois, era só fazê-los carregar as pedras. Este projeto seria implantado com dois tipos de agentes – o intelectual orgânico e o idiota útil. O primeiro grupo, através de jornais, revistas, rádio, TV – enfiaria minhocas na cabeça do segundo. Ao fim e ao cabo,  famílias,  igrejas, escolas, sindicatos e  partidos políticos virava uma coisa só. Só ouviriam a voz do dono. E, talvez, fizessem uma burocrático pedido de desculpa aquelas montanhas e montanhas de cadáveres que deixaram no seu rastro: “Estamos construindo um mundo novo. Desculpe a nossa falha.” E assim se faria uma sociedade incapaz de se julgar a si mesma. Não haveria mais culpados ou inocentes. Ou será que o distintíssimo leitor ainda vê alguma diferença entre o PSOL e o DEM? Atentai para os exemplos: O Sr. Evaldo Pontes da Silva foi exemplar. Amigo e vizinho do ex-bispo Waldir Calheiros quis louvá-lo mais uma vez aos pés da sua estátua, recém inaugurada: o bispo “tinha a coragem e a garra do Lampião”. Ora, Lampião era um bandido. Estaria o Sr. Evaldo fazendo confusão, colocando os dois num mesmo saco? Não! Nada disto. É que o Evaldo é um homem absolutamente inserido no seu tempo. Perdeu o senso. Lorenzo Aidé lança um pouco de luz sobre o facínora: "Um homem armado invade uma casa  em busca de comida. A dona, humilde viúva da zona rural, não tem o que oferecer. Tomado por um ataque de fúria, o invasor dá uma surra na mulher e depois se volta para o jovem filho da viúva, que presencia tudo. Põe então em prática seu gosto por rituais de sadismo gratuito: enfia o órgão genital do menino numa gaveta e a tranca com chave. Depois, ateia fogo à casa. Desesperado, o rapaz é obrigado a cortar o próprio pênis para salvar a vida. O facínora responsável por esse crime hediondo é hoje um mito nacional: Virgulino Ferreira, vulgo Lampião" Revista de História da Biblioteca Nacional). Basta? Tem muito mais: A antropóloga Luitgarde Cavalcanti (A derradeira gesta: Lampião e Nazarenos guerreando no sertão (2000)) diz que Lampião permaneceu 22 anos no crime só porque servia  à classe dominante. O êxodo provocado por suas crueldades refez o latifúndio no sertão nordestino. Somente após 1960, com a ascenção da esquerda no Brasil, a literatura de cordel muda o destino da sua alma, mandando-a para o céu. Antes, ele era tido como uma pessoa muito má e invariavelmente, mandado para o inferno. Pois é, o Sr. Evaldo é um gramsciniano sem o saber. 



“AGORA É NÓIS”
Capítulo 4

Ilustração revista Veja

“Vinde a mim, vós que tendes fome?” Foi, mais ou menos, isto que se ouviu da boca do Presidente Lula no dia da posse. Também, não era pra menos. Havia muito tempo que a igreja vinha catequizando militantes como quem arrebanha devotos. Santos e políticos se confundiam. Muita gente boa acreditava fielmente que Lula ia fazer a multiplicação dos pães. E ele reforçava a impressão: “País que conta com tantas terras férteis e com tanta gente que quer trabalhar não deveria haver razão para falar em fome”. Nascia o Fome Zero. Envolveu  todo seu ministério. Em breve, iriam todos lançar o projeto lá em Guariba, no Piauí. O mais baixo IDH do Brasil.

Que viessem todos os que tinham fome. O convite estava feito, mas não se sabia quantos eram os convidados. Para Lula, entretanto, isto pouco importava. Lula é Lula e Frei Beto é seu profeta. Lula mesmo estimou esse número em 44 milhões de boca – número maior do que a população do RJ, MG e Espírito Santo juntos. Nas contas da OMS eram 7 milhões. Criaram, então, um cadastro central que seria abastecido pelas secretarias estaduais de assistência social. Funcionários das prefeituras saíram enfim buscando e contando os famintos de cada município.

Em panela que muitos mexem não fica bom o refogado. Não deu outra. Até dezembro estavam contados e documentados 5,5 milhões de famintos, mais 5 400 sem nem ao menos o registro de nascimento. Esperava-se um número maior para este segundo grupo. Nem os próprios operadores da contagem o acatava. Frei Beto ficou de boca aberta. Mas logo se recuperaram porque os dados no Brasil não são mesmo confiáveis. No censo de 2001, o IBGE revelava que 22,8% dos mortos ainda figuravam como vivos, nos nossos registros.

Na concepção petista, é preciso que um perca para que o outro possa ganhar. Quem teria que morrer para o Fome Zero nascer? Resolveram matar a comopra de 36 F16. Era um projeto autorizado desde 2001. Coisa do governo passado, Fernando Henrique Cardoso. A FAB ficaria sem os seus caça. Muita gente aplaudiu: Avião não enche barriga! Nem se davam conta que era uma compra diferente. Comprar jatos não é como comprar feijão. Não é só botar um saco no carrinho e pagar no caixa. Uma encomenda dessas leva 4 anos para ser atendida e só é paga contra entrega da mercadoria. E não pára aí. Havia, enfim, mil argumentos para o Ministro da Defesa defender a sua FAB, mas ele só pensava naquilo. Depois, Lula não parecia estar de brincadeira. Ele próprio abrira mão do passeio à guariba com os seus 29 ministros mais os costumeiros papagaios de piratas. Era preciso economizar para o Fome Zero. E até apelou para a ajuda do povo. Sem o povo não se vai a lugar nenhum.
Era o terceiro apelo ao povo, na nossa história recente. Em 1932, Revolução Constitucionalista, pediram para o “Dê ouro para o bem de são Paulo”. A guerra acabou e construíram um prédio com o dinheiro arrecadado. Em 1964 foi a campanha “Dê ouro para o bem do Brasil.” Casais, cheios de ardor patriótico,  trocavam suas alianças de ouro por outras de latão, acompanhadas de um diploma de colaborador. Levantaram 400 kg de ouro de que nunca se soube em que foram usados. Do Fome Zero se soube menos ainda.
A Mercedez Benzz deu um caminhão para o transporte de alimentos. A Organização das Cooperativas Brasileiras doou 24 mil toneladas de alimentos. Gisele Budchen entregou a José Graziano, ministro de combate à fome,  o seu cachê por um desfile. O cheque era para o Fome Zero. O ministro o sabia. Entretanto, só o depositou 40 dias depois... A campanha ia de vento em popa.

Eram de fato bons os ventos. Dinheiro já não faltava. O Caso AGF ilustra bem o caso. Desde 1991 essa empresa lutava contra o pagamento de uma dívida de R$ 46,4 milhões. Esgotados todos os recursos judiciais, já não tendo mais como apelar recebeu o perdão do próprio credor, que anulou sua dívida. Não quis receber nenhum centavo. O governo federal era o  autor da ação.