O Ananás, aquela besta – todos o tratam
assim -, diz que vai votar no Athayde para o sindicato do funcionalismo. Uma
mulher ao lado diz: “Cruz credo! Te esconjuro!” Mas ele não se intimida porque
não diz isto da boca pra fora; diz com convicção. E ainda reforça com uma
aprovação definitiva, irrevogável: – “eu
só voto em quem o Neto indica”. É muita, muita coragem. E olha em volta para
ver se tem alguém espiando. Sempre tem. Há sempre um Zézinho da Ética, no
pedaço. Mas o Ananás tem também seu lado cívico. Se ele pudesse, juntava um punhado de gente e tirava o Jonas
Martins da Prefeitura de Volta Redonda. É a sua bandeira para as passeatas. Isto
mesmo! Ele pensa que o Jonas é que é o nosso prefeito de tanto que lê o jornal
Aqui. Traz muita confusão essa incurável antipatia que ele tem pela grande
mídia; ele só lê jornalzinho. Quanto menor, melhor. Por isso é que ele só lê o
Aqui e um ou dois jornais colegiais. Ah, parece que lê também o blog do Adelson
Vidal Alves. Mas eu não tenho provas. Digo isso só por causa das bobagens que
ele diz. Mas, mas, às vezes, não tem nada a ver. Afinal, tem muita gente tonta,
neste mundo. Espero em Deus não estar ferindo susceptibilidades comparando as
idéias do Ananás com as do Adelson. É tudo gente do Neto. Só que o Adelson é
comissionado; o Ananás está na fila.
Frei Beto tem uma fé muito maior do que o
grão de ervilha. Invejável! Chega a ser um defeituoso, um abusado. Peca a mais
não poder por conta dessa propriedade particularíssima. Não cuida do que diz,
do que pensa, do que faz. Essa imensa fé o estraga, portanto. Há poucos dias
defendia com ardor e uma
irresponsabilidade juvenil a vinda dos médicos cubanos para o Brasil. Aí veio a
carta da Dra. Juliana Cardoso que bombou na internet e minguou seus planos. Frei
Beto meteu o rabo entre as pernas, mas é por pouco tempo. É a conta de rezar
uma Ave Maria e meio Pai Nosso e já se julgará penitenciado. Chico Buarque é parecidíssimo
com ele. No Oi Casagrande, apoiou Dilma: “É um governo que fala de igual para
igual: Não fala fino com Washington e não fala grosso com a Bolívia e o
Paraguai.” Leonardo Boff, ao seu lado, até babou na gravata e chamou o cantor
de Anjo Gabriel. Agora, devem estar os dois também com os devidos rabos
recolhidos. Dilma Rousseff está falando em falsete com Obama. E rosnando com
peão. É que o Obama está enfurecido com Edward Snowden, que espalhou pro mundo
todo que o presidente tem o vezo de escutar conversas alheias. Já grampeou até
telefones brasileiros. Edward falou e deu no pé dos EUA. Está no aeroporto de
Moscow. Dali não o deixam sair. Obama está de olho e já disse quem acolher o
moço ta MP sal. A Venezuela ofereceu asilo ao rapaz e apelou para a comunidade
internacional contra essa barbaridade. D. Dilma não quer nem saber; fechou-se
em copas. Não é boba de desagradar o presidente enfurecido. No entanto, na
outra ponta do novelo, como engrossa! Na última reunião com líderes sindicais
no Planalto foi assim. Fala daqui, fala dali um dos presentes quis fazer xixi.
Muito natural. O segurança o mandou desapertar-se no andar lá de baixo. E
explicou que a presidenta fica furiosa com o barulho da descarga. Com isto ela
se aborrece...
O
dia em que Dilma cuspiu no rosto de 370.000 médicos brasileiros
Juliana
Mynssen da Fonseca Cardoso
Há alguns
meses eu fiz um plantão em que chorei. Não contei à ninguém (é nada fácil
compartilhar isso numa mídia social). Eu, cirurgiã-geral, ‘do trauma’, médica
‘chatinha’, preceptora ‘bruxa’, que carrego no carro o manual da equipe militar
cirúrgica americana que atendia no Afeganistão, chorei.
Na frente
da sala da sutura tinha um paciente idoso internado. Numa cadeira. Com o soro
pendurado na parede num prego similiar aos que prendemos plantas (diga-se:
samambaias). Ao seu lado, seu filho. Bem vestido. Com fala pausada, calmo e
educado. Como eu. Como você. Como nós. Perguntava pela possibilidade de
internação do seu pai numa maca, que estava há mais de um dia na cadeira. Ia
desmaiar. Esperou, esperou, e toda vez que abria a portinha da sutura ele estava
lá. Esperando. Como eu. Como você. Como nós. Teve um momento que ele
desmoronou. Se ajoelhou no chão, começou a chorar, olhou para mim e disse “não
é para mim, é para o meu pai, uma maca”. Como eu faria. Como você. Como nós.
Pensei
‘meudeusdocéu, com todos que passam aqui, justo eu… Nãoooo….. Porque se chorar
eu choro, se falar do seu pai eu choro, se me der um desafio vou brigar com 5
até tirá-lo daqui’.
E saí,
chorei, voltei, briguei e o coloquei numa maca retirada da ala feminina.
Já levei
meu pai para fazer exame no meu HU. O endoscopista quando soube que era meu
pai, disse ‘por que não me falou, levava no privado, Juliana!’ Não precisamos,
acredito nas pessoas que trabalham comigo. Que me ensinaram e ainda ensinam.
Confio. Meu irmão precisou e o levei lá. Todos os nossos médicos são de
hospitais públicos que conhecemos, e, se não os usamos mais, é porque as
instituições públicas carecem. Carecem e padecem de leitos, aparelhos,
materiais e medicamentos.
Uma vez
fiz um risco cirúrgico e colhi sangue no meu hospital universitário. No
consultório de um professor ele me pergunta: ‘e você confia?’.
‘Se
confio para os meus pacientes tenho que confiar para mim.’
Eu
pratico a medicina. Ela pisa em mim alguns dias, me machuca, tira o sono, dá
rugas, lágrimas, mas eu ainda acredito na medicina. Me faz melhor. Aprendo,
cresço, me torna humana. Se tenho dívidas, pago-as assim. Faço porque acredito.
Nesses
últimos dias de protestos nas ruas e nas mídias brigamos por um país melhor.
Menos corrupto. Transparente. Menos populista. Com mais qualidade. Com mais
macas. Com hospitais melhores, mais equipamentos e que não faltem medicamentos.
Um SUS melhor.
Briguei
pelo filho do paciente ajoelhado. Por todos os meus pacientes. Por mim. Por
você. Por nós. O SUS é nosso.
Não tenho palavras para
descrever o que penso da ‘Presidenta’ Dilma. (Uma figura que se proclama ‘a
presidenta’ já não merece minha atenção).
Mas hoje, por mim, por você, pelo meu
paciente na cadeira, eu a ouvi.
A ouvi
dizendo que escutou ‘o povo democrático brasileiro’. Que escutou que queremos
educação, saúde e segurança de qualidades. ‘Qualidade’… Ela disse.
E disse
que importará médicos para melhorar a saúde do Brasil….
Para
melhorar a qualidade…?
Sra
‘presidenta’, eu sou uma médica de qualidade. Meus pais são médicos de
qualidade. Meus professores são médicos de qualidade. Meus amigos de faculdade.
Meus colegas de plantão. O médico brasileiro é de qualidade.
Os seus
hospitais é que não são. O seu SUS é que não tem qualidade. O seu governo é que
não tem qualidade.
O dia em
que a Sra ‘presidenta’ abrir uma ficha numa UPA, for internada num Hospital
Estadual, pegar um remédio na fila do SUS e falar que isso é de qualidade, aí
conversaremos.
Não cuspa
na minha cara, não pise no meu diploma. Não me culpe da sua incompetência.
Somos
quase 400 mil, não nos ofenda. Estou amanhã de plantão, abra uma ficha, eu te
atendo. Não demora, não.
Não faltam médicos, mas não
garanto que tenha onde sentar. Afinal, a cadeira é prioridade dos internados.
Hoje, eu
chorei de novo.“
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