“Pedro, tome para si esta coroa, antes que um aventureiro lance
mão”. O pai mandou e o filho segurou a barra enquanto pôde. Depois, até rompeu
com a sede às margens plácidas do Ypiranga. Mas, segundo José Honório Rodrigues
não foi naquela posição heróica em cima de um cavalo, não. Nem foi, separação
amigável como soe acontecer entre alguns casais. O bicho pegou. Nos sessenta
anos que precederam a proclamação da república, muita água rolou por baixo da
ponte – farroupilha, cabanagem, sabinada, guerra do Paraguai... um monte de guerras.
Até que um dia o Marechal Manuel Deodoro, que já era um sexagenário cheio de
dispnéia e achaques foi procurado por uns republicanos. Era muito cedo. O sol
ainda não tinha se levantado e nem nenhum galo cantado. E os visitantes ficaram
ali enchendo de minhocas a cabeça do velho. Aí, ele se levantou e tentou montar
um cavalo que lhe levaram; não conseguiu. Terminou indo de charrete. De frente
ao ministério da guerra ele saudou a tropa, tirando e colocando o quepe
diversas vezes. Por fim gritou: “Viva o Imperador! Viva o Imperador!” quatro
vezes. Entrou no gabinete do primeiro ministro, Visconde de Ouro Preto, e
botou, conforme se dizia antigamente, a boca no trombone. Reclamou das
humilhações que os militares sofriam. Falou dos seus feitos na Guerra do
Paraguai, falou dos sacrifícios dos soldados, falou que o exército não podia
ser desprezado e tereré-tereré-tereré. Até que o visconde o interrompeu: “Olha
aqui, seu marechal! Muito mais sacrifício estou fazendo eu aqui ouvindo as
baboseiras de V. Excia!” Aí, foi a gota que faltava. O marechal o exonerou.
Benjamim Constant, republicano de quatro costados ficou lembrando para mandar
correr o imperador também. Deodoro, entretanto, achou que o serviço estava
completo. Só à noite, ao saber que Pedro II tinha nomeado Silveira Martins como
novo ministro foi que o Deodoro resolveu proclamar a república. Silveira tinha
lhe roubado uma namorada no passado e o velho marechal achou que aquilo era um
deboche. E assim começou a república.
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