terça-feira, 21 de março de 2017

PRA NÃO DIZER QUE NÃO FALEI DOS VEREADORES





Se eu presidisse um legislativo, o Artigo Um do seu Regimento Interno seria: “Quando um burro fala os outros murcham as orelhas”. Parágrafo Único - Revogam-se as disposições contrárias. Isto é essencial para o entendimento. Não sei porque vereadores, deputados e senadores gostam tanto de falar. Ninguém os ouve. Nem mesmo os seus pares. Verba volant. Se alguém precisar de tirar a prova não precisa ir longe. Aqui, em Volta Redonda, tem um baita exemplo - a Câmara Municipal. Vereadores se reúnem feito meninos no recreio escolar. Só lhes falta subir nas mesas brincando de pique alto. Jogar bolinhas de papel um no outro tem muita gente que diz que já viu. Eu, nunca vi, dado um vezo muito antigo que tenho, ponho toda a atenção na tribuna. O orador solta o verbo pra valer mas seus colegas não se tocam; continuam tagarelando ou no celular. Chegam até a tampar a orelha desocupada para ouvirem melhor o aparelho. Ninguém disfarça a baixa conta em que tem o legislativo. Veja como é a vida. Apesar de ter os ouvidos impenetráveis eles não querem que o povo fale nada. Isto ficou muito claro com o projeto do Paiva. O Paiva foi um vereador nosso - branco, alto, olhos azuis e arregalados, voz suave, barba por fazer, manso como uma cambaxirra e uma aparência anêmica. Ele era um vereador sem projeto, sem brilho, sem trabalho, porém um número expressivo de seguidores - a imagem cuspida e escarrada de um Antonio Conselheiro. Veio, então, um dia em que um anjo torto, desses que vivem pelas trevas (royalties para o Drummond) e soprou-lhe nos ouvidos essa ideia imortal de deixar o povo falar. O Paiva pegou e fez um projetinho simples. Deu-lhe, entretanto, um nome pomposo - Tribuna Popular. Coisa simples mesmo. De quinze em quinze dias, essa gente simples ia falar na Câmara Municipal, desde que observasse com excelso rigor os bons modos da casa. É claro! É fácil de imaginar a satisfação que daria. Era a catarse sem custo. Com tudo isto a projeto nunca foi aprovado. Quer dizer, nunca foi aprovado mas tem oferecido grandes dividendos. O Paiva ganhou quatro mandatos para Vereador, dois pra vice-Prefeito e ainda fez seu sucessor, Jari, o vereador mais votado. E tudo o que o Paiva fazia era requentar o projeto. De quando em quando, trazia-o de volta para nova votação. O Jari pegou a manha e vem fazendo igualzinho. O povo vai falar quinzenalmente. O povo vai se inscrever previamente, antecipando o que pretende falar. É vedado falar dos vereadores, dos seus assessores, dos seus parentes, amigos e vizinhos. Tudo conforme era. E, conforme foi, o projeto não será aprovado com a anuência inclusive do seu autor. Afinal, não se mata a galinha dos ovos de ouro. E ao som desse bolero, vida, vamos nós. E não estamos sós, veja, meu bem, a orquestra nos espera, por favor, mais uma vez, recomeçar. 

domingo, 12 de março de 2017

domingo, 5 de março de 2017

É MELHOR CHAMAR OZÔME







Nilton Almeida deu uma pedrada no Jango. Mirou bem no quengo. Não se sabe se acertou. Algum caça-talentos, é provável, valorizou-lhe o gesto e viu ali um promissor guerrilheiro. Acolheu-o sob suas asas parvas e começou a lhe enfiar minhocas na cabeça. Tres ou quatro anos depois o  nosso Nilton já estava desempregado e morando na França: “Mesmo estando só eu me sinto feliz/ Larará / cantando a canção que embala Paris/ sob este céu azul…” Um dia, porém, Au revoir, Cidade Luz. Chegou a hora de voltar para casa. Foi bom o retorno. A pátria o devolveu-lhe o emprego e deu-lhe uns bons trocados à guisa de indenização por  relevantes serviços prestados à democracia. Veio pra Volta Redonda, de mala e cuia. Casou-se e, pelo que sei, foi visto recentemente atirando pedras em pombos com seus netinhos. Não sei o pensam. Com o casal Colombo e Jessie Jane o buraco foi mais embaixo. No dia 1 de julho de 1970, Colombo com uma pistola escondida na bota, Jessie Jane com armas por baixo da roupa simulando gravidez e mais dois companheiros de fé, Fernando e Eraldo, tentaram sequestrar um Caravelle, no Galeão. Deu errado, mas deu certo. Ou vice-versa conforme seja a perspectiva. Ele foi para a Ilha Grande e ela pro Talavera, Bangu. Logo, logo passaram a se encontrar semanalmente. Um dia, o Sol da Liberdade em raios fúlgidos brilhou, de novo, para eles. Eles Vieram para Volta Redonda. Aí, veio a mão estendida do bispo Waldir Calheiros, a mão do  Sindicato dos Metalúrgicos, a  mão da Prefeitura Municipal. E o governador Leonel Brisola, que sabia das coisas, tornou-se seu benfeitor também.  Receberam indenização ele e a mulher. Pleitearam indenização também para a filha nascida em 1976. A prisão fora em 1970, mas nada de miséria. A pátria é generosa, rica e bondosa. Eram tantos os  pedidos de indenização... Só na família do Colombo eram 14 e foram concedidos 7: Marido, mulher, a sogra dele, a sogra dela, dois irmãos e um cunhado. Todos por relevantes serviços prestados à democracia. Era tanta a grana que rendia que Millor Fernandes criou a frase lapidar: “Eu pensei que era ideologia, mas era investimento”. Chico Buarque pensou responder-lhe, socando-lhe um murro. Que gente desprezível esta! Agora, por imensa dificuldade de aprendizagem estão nos levando a repetir a mesma lição. Muitos desses que foram presos/soltos/indenizados estão presos de novo. E já pleiteiam liberdade. Não tardarão pedir indenização. É preciso acabar com esse ciclo. Há sócios de um clube aqui que entendem ser melhor irmos convivendo com este governo de gangsters do que pormos a perder essa tão custosa democracia. Que democracia? Democracia pressupõe ordem, instituições fortes e povo organizado. O que se vê, entretanto, como disse o Mestre Jucá é uma imensa suruba. Eu, sinceramente, se os bandidos fossem menores, até concordaria em chamar a polícia, mas do jeito que está é só intervenção militar, que tem o dever de defender os poderes constitucionais.

quarta-feira, 1 de março de 2017