Anda
tão desacreditada esta Câmara Municipal que, de vez em quando, o Prefeito põe a
turma dele para brigar com a turma dele. Aproveita o vácuo. Mas é tudo de
mentirinha. Claro! É só pra inglês ver – a base parlamentar contra a base
administrativa. Lincoln Botelho, Paulo César Barenco e major Luis Henrique de
um lado; América Teresa, Conrado, Neném e mais quinze do outro. Querem dar a
impressão de que são diferentes. É uma questão de sobrevivência. A vida é mesmo
assim: Em ano de eleição vale tudo menos perder a eleição. O Prefeito sabe
disto e libera o pessoal. Podem xingar à vontade, desde que não metam minha
família no meio. E a família do Prefeito não é pequena, não. A América Teresa
faz isto com uma precisão cirúrgica. Eu soube de fonte limpa que ela está fazendo
um curso de xingar prefeito com o Baltazar, que – conforme sabemos – é um
mestre nesse tipo de destampatório. É que tudo tem sua hora e a vereadora cismou
que chegou a vez dela. Quer ser deputada federal. Pode parecer muito, mas ela
tem grandes projetos: Uma casa na praia, um carro moderno e uma fazenda é pinto
perto dos seus sonhos! E ainda tem que arranjar a família... Se bem que o
Conrado vem se dando bem esse danado. E isso só como vereador. Eu conheço o
Conrado desde o tempo em que ele fazia cocô na fralda. Mudou muito. Honra seja
feita – trabalha bem a turma. Não precisa de ajuda. Por isso eu acho um
desperdício o Baltazar ensinar o pulo do gato para Teresa. Ele tem um ódio
sincero ao Neto e pode prestar um desserviço a si mesmo. No período
pré-diluviano foram amigos. Muito amigos mesmo! Uma vez até bateram na porta da
minha casa, pedindo votos. Na verdade, era só o Baltazar quem falava: “Neste
você pode confiar. Eu assino embaixo!” E o Neto fazia cara de sério. O Neto é
muito gozado, gente! Só vendo, só vendo! Mesmo agora, tanto tempo depois, eu me
lembro da cara dele e fico rindo. Parecia até que ensaiavam o número sob a
direção do Bernardo Maurício, nosso decano em interpretação cênica.
Caprichavam. Mas o casamento durou pouco. O Baltazar se arrependeu feio. E,
agora, vive pedindo a Deus forças para refazer aquela mesma caminhada desmentindo
aquilo tudo que falara então. Mas é casa pra dedéu. Da minha parte, ele está
dispensado desses cuidados. E, depois, tá todo mundo sabendo da verdade apesar
do Jornal Aqui. Tanto que a Teresa tá assim de bico torcido. É o modelito da
estação.
Há
mais de 30 anos conheço o Ananás. Já o apresentei aqui algumas vezes e aviso
sempre que ele é mais conhecido como Aquela Besta, por merecimento. Pois bem.
Eu o conheci distribuindo santinhos numa campanha eleitoral. Pedia votos para
Jandira Feghali, candidata a deputada estadual. E como que encantado explicava
aos eleitores que abordava: “Ela é morena, cabelos longos, alta, bonita e jovem”.
Era tudo que ele sabia da moça e, segundo suas convicções bastava. Há muito
marmanjão que vota assim. Mas nem todos. Em caso contrário, não haveria a
América Teresa, a Ines Pandeló e a Cida Diogo. E, se formos botar os pingos nos
is nem mesmo a Jandira Feghali haveria mais. E, no entanto, ela está na área: A
mesma tez morena, o mesmo cabelo longo e trinta e poucos anos a mais no lombo.
De qualquer forma, continua vivendo às nossas expensas, como deputada federal.
O Brasil se permite essas dicotomias: A política não é profissão, mas os
políticos são profissionais. Até aposentam. Daí esse cuidado permanente para
defenderem o espaço que entendem como seus próprios. Assim, a deputada como
toda a esquerda, farejou na Rachel Sheherazade uma ameaça. Achou que a moça
estava roubando o seu discurso de apologia da violência porque julgara
compreensível populares no Rio de Janeiro terem amarrado um ladrão no poste.
Foi um pânico, uma histeria na esquerda. Alguém mexeu no meu queijo. Soltaram
os cachorros. Jandira Feghali e Ivan Valente, do PCdoB e do PSOL
respectivamente – primos pobres do PT-, se puseram a freqüentar os corredores
palacianos federais. Foram ao Procurador Geral da República e deram as cartas:
“Que a moça seja demitida ou que se casse a concessão do SBT”. E, que se
suspendessem os pagamentos da verba publicitária até que se resolvesse a
questão. Vejo as pessoas defendendo Sheherazade, mas não vejo ninguém acusando
esses dois deputados. Enquanto o crime deles me parece muito maior. Se é que
Sheherazade cometeu algum crime. Eles nem processaram a moça, sequer. Foi
julgamento sumário. Colocaram o Estado a seu serviço. E, cá pra nós, militante
do PCdoB ficar arrepiado com incitação à violência é uma mui suspeita
susceptibilidade... O PCdoB estava enfiado até o gogó na guerrilha do Araguaia.
E seus membros, entre outras mortes, mataram um menino de 17 anos de idade na
frente dos pais, cortando-lhe inicialmente a orelha. E o Ivan Valente também
não pode rir da Jandira não que o seu partido, PSOL, foi lá na Papuda dar a mão
amiga ao terrorista Cesare Batisti, condenado por quatro assassinatos na
Itália. E, mais recentemente, tinha alguns dos seus meninos envolvidos no
assassinato do jornalista da Bandeirantes morto em serviço, cobrindo passeata.
Concluiu
que elas não eram nenhum recurso de camuflagem e se deu por feliz. Agora, um
século e meio depois, vem o Tim Claro da Universidade da Califórnia e começa a
observar a zebra e os seus parentes mais próximos – o cavalo, o jumento e o
asno. Viu que a região habitada pela zebra é totalmente inóspita para estes
outros três animais. Se o cavalo, o asno e o jumento quisessem ser seus
vizinhos não sobreviveriam. Essas regiões são infestadas de moscas sugadoras –
tsé-tsé, muriçoca – que são inofensivas às zebras e fatais aos outros três. Tim
Claro percebeu que aquelas moscas não pousam em superfícies listradas. O
trabalho está na revista Nature Commuications. Estou louco para mandar essa
postagem para o prisioneiro José Genoíno. Assim ele se sentirá mais confortável
naquele seu uniforme da Papuda.
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