Deu no jornal Tempo que, em
Santa Maria (RS), há uma lei que proíbe latidos de cachorros após às 22horas.
Eu acredito. Tenho visto muitas coisas neste mundo. Na nossa Câmara Municipal
quiseram inventar uma tal de Tribuna Livre. Lá, o mais comum dos mortais
poderia usar da palavra. Parece que opunham restrição ao uso do palavrão. No
mais, a palavra era livre. A Câmara Municipal anunciaria previamente o orador
da noite: Hoje, com a palavra, Zé das Couve. Imagina as mudanças na vida do
povo após esse discurso. Nenhuma! Vejo o povo falar nos ônibus, nas filas do
banco, nos supermercados e nada. Foi muito bom, portanto, os vereadores Tigrão, Simar, Francisco Novaes, Francisco
Chaves, José Augusto, Neném, Pedro Magalhães, Maurício Batista, Adão Henrique,
América Tereza e Dinho votarem contra o projeto. O nosso legislador de controle
de qualidade. O negócio não é apenas produção. Segundo o Tribunal Federal de
2000 a 2010 foram criadas 75 517 leis no país. Uma média de 20 novas leis por
dia. Com Sol ou com chuva; com jogo do Brasil ou sem jogo do Brasil, a cada dia
20 outras novas leis. Está ficando difícil. Já existe dia dos médicos até o dia
do pedreiro meia-colher. É, portanto, muito natural que vereadores, de vez em
quando, dêem um pulo no lixão da câmara à cata de alguma mangonga. Tal se deu
com o Vereador Jari que achou essa Tribuna Popular. Aparentemente é uma
bobagem. E, aqui, as aparências não enganam. É mesmo uma bobagem! Talvez nem o
próprio Jari tenha a mais pálida vontade de aprová-la. Só assim poderá voltar
com ela a cada seis meses e, assim, vir vivendo. O Paiva foi esperto. Passou
todos os seus mandatos botando e rebotando esse projeto em pauta. Uma vez me
encontrei com Ítalo Granato, pedindo votos para o Paiva. No centro de uma
rodinha de eleitores ele explicava que votava no Ratinho porque ele defendia a
criação da Tribuna Livre. Ele chama o Paiva de Ratinho. O Ítalo sabe muita
coisa que eu não sei. O que sei mesmo, com toda a certeza, é que esse projeto
tem ajudado muita gente boa. No tempo do Sarkis já era uma idéia velha. Mas,
naquele tempo, até fazia sentido. Éramos todos mais ingênuos. Havia três vereadores
muito moleques – Luís Carlos Sarkis, Julio Ferreira e Vander Lucas. Todos
imberbes. O Vander Lucas, na verdade, tinha uns bigodes a La Nietzche. Mas,
espiritualmente, era um glabro mancebo. Vander Lucas se
tornou dono de uma funerária; Luis Carlos Sarkis chegou a Presidente da Casa.
Está lá na parede o retrato dele. Rechonchudinho. Precisa de ver. Julinho Ferreira perdeu a eleição pra prefeito
e foi morar nos Estados Unidos. Também, apenas a Maria de Lourdes Lampert
acreditava na candidatura dele; ela era sua vice. Naquele ambiente de sadia molecagem,
Aristides Martins quis colocar fraldas nos cavalos e alguém falou na tribuna do
povo. Zezinho da Ética correu e entrou na fila da inscrição, onde está há
trinta anos. Zezinho é eterno. Ele é assim como uma Dodora com certificado de reservista.
AGORA É NÓIS!
Capitulo II
Na campanha e na posse de
Lula, a palavra que mais se falou foi “mudança”. Luciano, da dupla com Zezé de
Camargo, era quase um coqueiro naquela paisagem. Falou do seu “Orgulho em
participar do momento de mudança no país... quero contar essa história aos meus
filhos e netos no futuro”. O cantor Gilberto Gil não deixou por menos. Esqueceu
o seu jeitão de baiano e saiu em desabalada corrida do palco. Ia tomar posse
também. Arranjara um bico no novo ministério – Ministro da Cultura. No seu
discurso, usou palavras como “transculturativas”, “ouriçar planetariamente”... palavras
que não querem dizer absolutamente nada. E, pior ainda. Embora só ele as
empregasse já eram palavras muito usadas. Haviam até figurado em programas de
humor. Chico Anísio muito se serviu delas no seu Chico Total, na TV. Nisto,
Gilberto Gil não mudara.
Toda a turma estava Ciro
Gomes, Ministro da Integração Social, prometia acabar com os transtornos das
chuvas cíclicas; Cristóvão Buarque, Ministro da Educação, prometia acabar com o
analfabetismo; Palocci, Ministro da Fazenda, prometia acabar com a pobreza;
Lula, o presidente de todos nós, prometia acabar com a corrupção. Enfim, era
barba, cabelo e bigode. Antes de mim, o caos. Tudo tem seu tempo e o de Ciro
foi o mais curto. Duas semanas depois da sua promessa , novos desabamentos
ocorreram em Minas Gerais. Foram vinte e seis mortos, setenta e quatro feridos,
setecentos e setenta e quatro desabrigados e umas duas dezenas de desaparecidos
o saldo da tragédia. Tres ministros foram prestar solidariedade aos mineiros.
No meio deles, Ciro Gomes.
Na manhã seguinte, 500 garis
cuidavam da limpeza na Esplanada. Um punhado de bandeirinhas do PT, faixas
alusivas ao presidente, cartazes, santinhos tinha que ser removido. E, ainda,
havia um jardim para ser replantado. Na frente da Granja do Torto ainda havia
gente. O Presidente receberia visitas oficiais em casa. Hugo Chávez foi o
primeiro a chegar. Reclamou da greve geral que enfrentava em seus país, pediu
ajuda pra enfrentar a oposição e falou, também, da Petroamérica, uma integração
das empresas de petróleo. O último visitante foi Fidel Castro que terminou
cerrando a janta. Fidel estava como que na própria casa. Assistira a posse de
Cristóvão Buarque ao lado de Maluf e ACM. Não consta que tenha se sentido
incomodado. Lá fora, os talibãs do PT não toleravam aquela aproximação.
Aguardavam na saída. Queriam aplaudir o cubano e hostilizar os brasileiros. É
da vida.
Quinze dias depois, junto com
aquelas chuvas que caíam em Belo Horizonte, um banho de água fria desabava
sobre a massa trabalhadora. Jaques Wagner, Ministro do Trabalho, dizia à Folha
de São Paulo da sua intenção de extinguir a multa de 40% nas demissões
desmotivadas: "A forma melhor seria não ter esse ônus na demissão". A
CUT chiou, a Força Sindical chiou. Foi um auê! Até o Presidente do Tribunal Superior
do Trabalho, Francisco Fausto, soltou os cachorros: “Ela é inegociável. O
ministro terá de voltar atrás, porque disse uma bobagem". E ele voltou.
Antes que se recuperassem o
fôlego, um novo rebuliço: Lula ia mexer na Previdência. Iniciariam as conversas
em fevereiro e até junho o projeto estaria prontinho no congresso. O Presidente
tinha pressa. Queria ver sua nova lei funcionando em 2004. Ano Novo, Vida Nova.
Marco Aurélio de Mello, Presidente do Supremo Tribunal Federal, considerou
aquilo uma brutalidade. Para ele, qualquer mudança que não respeite direitos
adquiridos só pode ser feita por uma revolução contra o estado de direito
estabelecido: "Não chego a dizer que são propostas demagógicas, mas você
só pode fazer isso quando vira a mesa e há uma revolução do poder constituinte
originário", declarou Mello, ao jornal O Estado de S. Paulo. Lula diz que
vai debater com a sociedade. Mas, nos bastidores, ele sabe direitinho o que
quer. Até se diz que todas categorias de servidores do país serão incluídas na
reforma mesmo que eles tenham que abrir mão de benefícios. E ainda estávamos na
primeira quinzena do seu mandato.
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