Lambisgoia. É dispensável a
corrida aos dicionários pois já lhes darei um desses exemplos em carne e osso –
A minha vizinha do 65. Ela se mete em tudo. Diz-se uma feminista desde as
longas orelhas aos cascos. Por isso, o caso do ator José Mayer e a figurinista
foi como um soar de trombetas para ela. Sabia-se que a moça era uma figurinista
e, aos olhos do Zé, bonita de merecer uma burrice; do ator eram conhecidas até
as intimidades mostradas em cenas de novela – uma sedução aqui, um estupro ali.
Cenas aplaudidíssimas, de cujo realismo poucos duvidavam. Aí, veio essa tal mão
boba espalhando indignação do Oiapoque ao Chuí. Até na minha pacata rua houve
uma manifestante – a minha vizinha do 65. Na verdade, o caso estava meio que
passado e a empresa já dera um pito no ator. Meses depois, demitiu a moça que
jogou tudo no ventilador. A Globo, que
não dorme com os olhos dos outros, colheu o limão e fez a limonada! Sua troupe
feminina vestiu a camisa da casa – “Mexeu com ela,mexeu comigo!” – e invadiu
programas e palcos. Como interpretam bem as danadinhas! Minha vizinha que não
tem o crachá da empresa também foi na onda e surfou na avenida, na padaria, no
supermercado – por onde lhe permitissem a entrada. Sempre vestida a caráter –
“Mexeu com ela, mexeu comigo”. O caso ia se apagando quando Silvio Santos
juntou-lhe novas brasas. Foi no Troféu Imprensa. Ele entregou o prêmio a Rachel
Scherazade mas passou-lhe um carão, repudiando-lhe os comentários no Jornal do
SBT. Havia cinco anos que a jornalista fora atacada furiosamente por conta de
sua opinião naquele mesmo noticiário. Era um eco desses useiros e vezeiros
usados na TV, sobretudo pelo Datena, Marcelo Resende e tutti quanti. Mas a
deputada Jandira Fhegali não quis nem saber o preço do pato. Alguém ia ter que
pagar a conta. Pediu intervenção federal no SBT. O negócio foi
calar os comentários da moça que não mais deu sua opinião daquele dia em
diante. E assim se fez e assim se faz. Lá se vão cinco anos. Sílvio Santos
requentou o caso fazendo críticas sobre aqueles comentários idos e vividos,
muito antes do caso do Zé. Evidentemente era uma brincadeira dele. Uma galhofa.
Minha vizinha do 65, feminista histérica,
vê tudo de outra forma. Cismou que aquele chiste era uma censura
pública, portanto, assédio e danou a montar o seu arsenal de intrigas.
Encontrou o texto de outra lambisgoia, copiou e colou aqui no face. A autora
diz que Scherazade, apesar de ser fascista, conservadora e retrógrada, merece
sua solidariedade. Como se pode cometer tantos erros numa simples frase! Essas
palavras – fascista, conservador e retrógrado – são mutuamente exclusivas. Não
se pode ser fascista e conservador ao mesmo tempo e também não se pode ser
conservador e retrógrado concomitamente. Temos aí uma lambisgoia que não sabe o
que escreve e uma outra que a entende perfeitamente. Eis um milagre da nossa
cultura.
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