elson sepulveda

NOSSO PERSONAGEM HISTÓRICO

Beco da Gordura

Há, em Volta Redonda, um personagem histórico. Um homem que atirou uma pedra contra a cabeça do ex-Presidente João Goulart. Óculos, cavanhaque e bigodes como os de Trotsky. Quem o vê, sentado ali, lendo um jornal, cofiando a barba, não diz. Mas se você se achega ele logo arranja um jeito de dizer : "Eu sou o homem que deu uma pedrada no Presidente Jango". E oferece a mão direita para ser beijada. E há quem a beije. Esta pedrada não está ainda nos compêndios de história, mas foi muito importante. Valeu-lhe um exílio na França. E quando tornou ao Brasil foi-lhe restituído o emprego de bancário e um pouco de grana para encher o colchão e o travesseiro. Aí, transferiu-se para Volta Redonda. Ganhou um auditório bem ali no Beco da Gordura, um corredor de restaurantes, bares e lanchonetes, na Vila Santa Cecília. Ali se sentam políticos e outros desocupados. Conversam, curtem a vida. E ali como um monumento de si mesmo, fica o nosso personagem, contando a história da pedrada. Morro de inveja dele. Mas um dia eu chego lá. Vou começar treinando na cabeça de um Vereador. Vou ver se encontro o Paiva.

UM DEBATE FRIO

Serra, Dilma e Marina quando se encaminhavam para o
debate na TV

De frente aos spotlights estava mais frio que nas ruas. Nos intervalos, os candidatos davam um pulinho lá fora para se aquecerem e se acertarem: "Olha, estamos indo bem. Nada de botar a mãe no meio, tá?". Aquela coisa da máfia siciliana: "Você não fala de mim e eu não falo de você."  Daí, quem pretendia ver melhor as diferenças, ficou com a cara de taxo se perguntando: "Quem é a Dilma, ali?"  Difícil de saber. É tudo uma mesma família. Uma, dizem é filha legítima. Feita dentro do palácio. Os outros dois feitos extra-muros. Mas todos tem DNA para provar. Como são irmãos não brigam de frente às câmaras.  É feio. Nada  falar de mensalão, das FARC, da amizade com trogloditas e nem tampouco da segurança em São Paulo. O clima  permaneceu estável, sem chuvas, sem trovoadas. Dilma sentiu-se à vontade e se escorou no nome do pai: "Eu considero que o presidente Lula foi sem dúvida alguma um dos melhores presidentes que o país teve". Serra sentiu como um soco abaixo da linha de cintura. Fora do combinado. E rebateu com os dois pés, dizendo que  Antonio Palocci, ex-ministro da Fazenda, "elogiou durante vários anos a política econômica de FHC". Aí, Dilma ficou vermelha como se tivesse dito um palavrão. Mudaram de assunto. Marina aproveitou e falou da sua origem humilde. Serra também falou da sua origem humilde. Mas não era um terreno bom. É uma área em que o Presidente é imbatível. Afinal foi ele mesmo que afirmou ser filho de mãe que nascera analfabeta. 

Deixa o Sérgio Cabral saber disto

Prefeito da capital da Islândia
Jon Gnarr

Jon Gnnar, prefeito de Reykjavik, capital da Islândia, deixou a roupa de bofe e partiu para a farra, vestido de drag queen. Peruca loira, recheio para os peitos, batom muito vermelho, subiu ao palco para as autoridades.  Quando o mestre de cerimônia o apresentou, embaixo de raros apupos e muitos aplausos ele disse: "O prefeito, infelizmente, não conseguiu comparecer. O que ele está fazendo? Talvez visitando Moonin Valley," referindo-se a uma história infantil filandesa, muito conhecida na Islândia. E completou: "Isto é o que vocês podem receber por terem votado em um palhaço."  Jon é um notório comediante islandês e chegou a Prefeito pelas  eleições de junho último. É uma figura irreverente, irônico e jocoso. Não muda. É assim o tempo todo. A começar pela escolha do partido -  Best Party - Melhor Partido. Suas promessas de campanha estavam  afinadas pelo mesmo diapasão. Prometia toalhas grátis para as piscinas públicas e doação de um  urso polar para o zoológico local. Falava que seu mandato teria  "uma transparência sustentável" e que ele próprio seria "acima de tudo, um prefeito divertido". Isto é muito para nossa cabeça de brasileiros. Não conhecemos por aqui nenhum político que seja palhaço o tempo todo. Este é o nosso problema.

foto: O Dia

LOS TRES HERMANOS

Kirchner, Presidente da Unasul, Cháves,
Chaves, Presidente da Venezuela e Lula

Lula não fez caso do conflito Colômbia X Venezuela, e nem havia jogo do Corintians, na hora. Queria distância daquele bate-boca de vizinhos. Álvaro Uribe não gostou da chacota. Nem um pouquinho. Aí, mandou seu recado. Disse que : Lula "ignora a ameaça que a presença de terroristas das Farc na Venezuela representa para Colômbia e o Continente.” E se tornou, assim, o segundo presidente a chamar Lula de ignorante nesta semana. Pô! Que falta de respeito! Mas Lula nem ligou. É o mesmo que chover no molhado. Ele mesmo já disse que a mãe dele nasceu analfabeta.  Lula, às vezes, é muito gozado. Jaime Bermudez , chanceler Colombiano, foi à conferência em Quito, levar o recado do chefe. Repetiu tudo. Quer dizer, não sei se ele chamou Lula de ignorante novamente. Acho que não. Aí, é demais, gente! Três vezes é sinal de forca, como se dizia antigamente. Sei que Bermudez quase sai vitorioso do encontro. A sua proposta de "um mecanismo ágil e eficaz" para corrobarar ou não as denúncias da Bolívia, quase foi aprovada. O representante da Venezuela pulou fora na hora H. Ficou tudo para o próximo presidente da Bolívia.  No dia 8, todos estarão juntos na posse de Santos, sucessor de Uribe. Aí, eu não sei se ele vai chamar a Dilma de ignorante. Tomara que não, se é que vocês me entendem.

A CAMPANHA DA FRATERNIDADE

E A MISSA A R$ 70,00

Papa Bento XVI saudado
por uma multidão de freiras
na Praça São Pedro

O Papa Bento XVI está pronto para outra. Há pouco mais de um mês andou meio recluso. Pisar no solo britânico só depois de muitas orações. Foi o aviso que recebeu do Anjo da Guarda. É que dois escritores ingleses, Richard Dawkins e Cristoper Hitchens, haviam contratado advogados para pegarem-no numa emboscada. A ameaça vazou. O papa seria preso  por encobrimento de clérigos pedófilos, crimes contra a humanidade.  Para Hawkins, o papa não tinha escapatória. Não poderia sequer apelar para a imunidade diplomática, porque o Vaticano não é reconhecido pela ONU como Estado.  Enfim, tava no papo.  Queriam lhe fazer o mesmo que fizeram a Augusto Pinochet, em 1998. Foram 503 dias de  xilindró. Mas nada há como o tempo para passar. E passou mesmo.  Agora, o Papa visitará o Reino Unido de 16 a 19 de setembro como um popstar em turné de lançamento. Quem quiser vê-lo terá que pagar ingressos, cujo preço vai de  12 a 30 euros, com direito a missas. Estão postos à venda 70.00 bilhetes de 30 euros. Cada um deles acompanhado de um "kit peregrino" com instruções para o evento, um CD comemorativo e um cartão postal.  Só o governo, vai desembolsar cerca de 12 a 14,5 milhões de euros, além dos gastos com a segurança. Os fiéis excluídos das celebrações poderão se consolar comprando suvenires na internet (http://www.thepapalvisit.org.uk/). Isto num ano em que a Campanha da Fraternidade tem como tema: "vocês não podem servir a Deus e ao dinheiro".

A POMBA E A PAZ

Santana é uma estação de metrô. Muita gente e muitos pombos. As pessoas já se contaram, 53 000 mil passam por ali diariamente. Agora, pombos... Barracas de salgados, bolachas, lanches, pizzas e doces, nas proximidades da estação garantem a  alimentação dos bichinhos. Sempre há um freguês caridoso ou descuidado dá ou deixa o de comer aos pombinhos. No entanto, os pombos não nos vêem com bons olhos. O biólogo Luiz Sanfilippo também não vê amor correspondido nessa relação:  "As pessoas não aceitam um rato, mas aceitam uma pomba. Alimentam, têm simpatia por elas."  É duro acreditar que justo o nosso símbolo da paz, não quer dizer sossego, não quer dizer tranquilidade. Pode nos causar doenças como a criptococose (ataca pulmão e sistema nervoso central) e a histoplasmose (causa micose profunda e afeta órgãos internos), além de intoxicações alimentares, alergias e dermatites. Os pombos não estão nem aí. Dão rasantes nos passageiros e lhes deixam na roupa, não raro, uma lembrança pasmosa. Parece mesmo que cantam: "Um elefante incomoda muita gente/ um pombo incomoda muito mais."

foto: www.blogmiruna.com.br

17 TONELADAS DE PAPEL

                                               

Gente, já vi fazerem sumir moedas, desaparecer cigarro, ovo e até coisas vivas como pombos. Não é fácil. A gente fica de boca aberta, com o espetáculo. E, quase sempre, compra o que eles estão vendendo. Mas nunca, nem na praça, nem na arena de um circo, nem no palco de um teatro, vi igual se deu no Paraná. Êta pessoal, danado, esse! Fizeram desaparecer 17 toneladas de documentos! Então, o cara entra num depósito. Passa pelo vigia. Sai com 17 toneladas de papel. E o vigia fala assim: "Pra que que está levando este papel?" E o ladrão diz, por exemplo, "vou tirar xerox". Passa tranquilo. E no meio dessa montanha de papel desapareceram irrefutáveis, porém incineráveis, provas de desvio de dinheiro público. Foram R$ 800 mil, gastos com diárias de 2007 a 2010. Como viaja esse pessoal... Ninguém pra lhes chamar atenção. “Vê se assenta o bum-bum na cadeira, menino! Vê se trabalha um pouco também!” Nada disto. Funcionários da Secretaria de Educação requisitavam diárias a chefia assinava. E ninguém viajava, mas que recebia, recebia. Eu disse alguns funcionários. Evidentemente, só aqueles com iniciação política. Isto não é coisa pra primário não. Os caras sacam. Pareceu coisa de cinema. Com atores, script e tudo. "Eu desapareço com as provas e, depois, só depois, presta atenção!, só depois, você denuncia. Repete para ver se entendeu. Tem que ser feito direitinho, viu? Decora bem sua fala, seus gestos". Em 14 de janeiro, a funcionária denunciou a falta desses papéis a delegacia de Piraquara. Nenhuma pista foi encontrada. Tá pensando que os caras são bobos? A ouvidoria quer ir mais longe, apurar desde muito lá de trás. Quando chegar no Tomé de Sousa eles voltam.

Fonte: Folha de São Paulo

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