segunda-feira, 16 de agosto de 2010

QUEM SABE AINDA SOU UMA GAROTINHA?



Marina Silva foi ministra de Lula por seis anos. Mais tempo do que um curso universitário. Saiu do Partido como quem abandonasse uma profissão depois de formado. Pra que tanto investimento, meu Deus? Resistira ao mensalão, desdenhara do dinheiro na cueca, perdoara aos aloprados. Tudo como uma mãe relapsa, uma irmã conivente. Viu todos, todos passarem no corredor do linxamento e os saudava - coragem, irmãos!  Mas tinha gente com o estômago mais fraco. Gente que  Tapava o nariz e saía correndo para outros ares. Foi assim, com Heloisa Helena, Luciana Genro, Flávio Arns, Fernando Gabeira...  tanta gente que deu pra fundar um outro partido e fortalecer outros. Mas Marina era muito família. Foi ficando. De vez em quando, a arrastava para um passeio. E por onde ela passava ouvia : "Marina presidente! Marina presidente! Marina presidente!" Aquilo, a enchia de vento. Às vezes, pegava-se sozinha dizendo "Vou ser presidente". Mas o Presidente que era bom não falava nada. Um dia a ansiedade a atropelou. Mirou-se no espelho e perguntou: "Existe, espelho meu, alguém mais querida do que eu?" E o espelho respondeu - Existe, é a Dilma Rousseff. Mas Dilma era uma noviça no partido. Andara por aí, brincando de guerrilha, metida em outros buracos... Ela conhece o Evangelho e viu ali o remake do Filho Pródigo. Marina juntou seus paninhos, pôs tudo numa mala, devolveu a chave ao senhorio e disse eu vou ser presidente. Chegou no PV. Mudou o discurso do partido, mudou a posição do partido. Só não perdeu o jeito de petista. Está assim como a garrafa que leva querosene. Você pode lavar, lavar, lavar que nunca mais perde o cheiro.
FOTO: O Estado de São Paulo 

O CAPIM ELEFANTE E A ENERGIA ELÉTRICA



Dinheiro como capim. Esta expressão queria dizer  muito dinheiro. Outros diziam, dinheiro é mato, que era a mesma coisa. O que não se imaginava é que , um dia,  uma moita de capim viesse a ser  a carteira recheada.  É o que se dá com o capim elefante, que dignificou a espécie.  O que é o dinheiro!  E olha que por muitas décadas o capim elefante servira somente como forragem.  Agora, boi vai comê-lo só em datas especiais, se comê-lo de novo.  Deus queira que não, mas há sempre os aproveitadores. Quem sabe um dia, assim como sobe o álcool, a gasolina... coitadinhos dos carroceiros.  Essa gente é atentada! Mas o que vale mesmo é o capim elefante. Capim resistente à seca e se desenvolve nos terrenos mais pobres. Não precisa de aguar nem de menores cuidados. Cresce que só vendo! Atinge 6m de comprido. os outros capins são uma espécie de capim de segunda de segunda classe. A Inglaterra foi a primeira que percebeu-lhe o jeitão e a possibilidade de promovê-lo a combustível para termelétrica. Depois, seguiram-na  a Áustria e Alemanha. Não obtiveram sucesso. No Brasil,  Paulo Putterman, pesquisador brasileiro, mestre em biotecnologia, chegou lá. O capim é plantado, colhido, triturado e incinerado numa caldeira que abastece um gerador.  Pronto. Estava ali  uma termelética. Procurou  os empresários Luis Felipe D’ávila e Ana Maria Diniz para convencê-los da viabilidade do projeto.  Conseguiu. E num ponto lá a 1 000km de Salvador, S. Desidério, nascia a usina  Sikuê Bioenergya. Pioneira na energia elétrica a partir do capim elefante. E, em junho de 2010, passou a produzir 30 megawatts de energia. O suficiente para abastecer uma cidade de 200 000 habitantes. Nasceu assim o seu primeiro contrato de forneceimento que é  com o Grupo Pão de Açúcar do qual a família de Ana Maria Muniz é sócia e que compra sua energia no mercado livre desde 2001. Deus queira que  não, mas os passeios a charrete vão ficar mais caros.
 

UM  PRESIDENTE CHAMADO KAGAME



A democracia na África custa se firmar. Suas nações foram fundadas sem obedecerem as divisões tribais. As guerras internas são frequentes e dificultam a unidade do poder administrativo.  Em consequencia disto 53 nações africanas enfrentam sempre derramamento de sangue. Em Ruanda, entretanto, desde 1994 não há guerra. A oposição está quase zerada. Baixou ali algum algum filho de Deus? Não; ele tem um método nada acadêmico para silenciar a oposição. A força que Kagame comandava matou 800 000 adversários. Aí, a paz abriu as asas sobre aquele território. De lá para cá ele navega em águas tranquilas. É bem verdade que as marolas sempre surgem. Mas é logo vencida.  Tanto que foi candidato único a presidência e eleito com 92,9% dos votos. Nem precisava, mas força do costume, houve fraude na votação e na apuração.  Cercou nas duas pontas.  Houve gente que votou fora do horário oficial e vigiada. Sozinho, ali, oh.  Quer dizer, sozinho sem Deus. E Kagame ganhou disparado.  Pelo que se vê o pessoal ainda o tem bem vivo na memória o massacre de 94. É duro de esquecer.

NOTA

Bem a propósito dos tempos, um texto de Brecht


O Analfabeto Político


Bertolt Brecht


O pior analfabeto é o analfabeto político. Ele não ouve, não fala, nem participa dos acontecimentos políticos. Ele não sabe o custo de vida, o preço do feijão, do peixe, da farinha, do aluguel, do sapato e do remédio dependem das decisões políticas.


O analfabeto político é tão burro que se orgulha e estufa o peito dizendo que odeia a política. Não sabe o imbecil que, da sua ignorância política, nasce a prostituta, o menor abandonado, e o pior de todos os bandidos, que é o político vigarista, pilantra, corrupto e lacaio das empresas nacionais e multinacionais.

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