Foi uma baita de uma
euforia quando o caminhão da SMO chegou aqui na Barreira Cravo. Veio
cheiinho de operários. Dava gosto de ver. Eu bem que quis contá-los mas não deu
jeito. Muita gente veio pra rua ver aquele mutirão. Organizou-se, logo, um pelotão
para ir à padaria comprar bolo e leite para a moçada. Um homem jurava que
aquilo era por um pedido seu - ele quer ser candidato a vereador; outro puxava
brasa para América Teresa - Teresa é vereadora. Eu, no meu canto,
cismando: “Aí, tem dente de coelho.” Se fosse varredura de uma rua, uma capina
ou uma troca de lâmpadas... tudo bem. Dava pra aceitar. Até podia ser coisa da
Vereadora. Por que, não? Mas aquele mundaréu de gente e ferramentas só podia
ser coisa de gente grande. Gente grande mesmo. Maior, muito maior, do que esse
prefeito, que esqueceram aí, no cargo. Digo isto assim não é por nada, não. É
que o prefeito anda tão desacorçoado que ele está só aguardando a ordem para ir
embora. Já não move uma palha, sequer. Por vinte anos pelejou com a Rodovia
do Contorno, sempre adiando sua inauguração. Vai ser em março, passou pra
abril; depois, de abril pra maio. E veio assim de mes em mes, de ano em ano, de
década em década. Cansou. Não quer mais nada. E, de fato, esse movimento
na Barreira Cravo não tinha nada a ver com ele. O caminhão entrou na rua
5 e parou em frente ao nº 66. E pronto, desfez-se o mistério. O pessoal
desceu da carroceria e começou a trabalhar. Tudo, então, tornou-se
compreensível e até comovente. A obra não tinha nada a ver com o bairro,
mas com uma moradora, a filha do Secretário de Obras, Uóxinton Granato. Era um
mimo que um papai fazia pra filhinha do coração. Um eleitor-contribuinte
falou, muito emocionado, que faria o mesmo por sua filha, também. A dona
tá reformando a casa e o papai veio ajudar. Tá ficando linda, que só vendo!
Qualquer um que passar por ali vai ver que não estou mentindo. Esta
administração municipal tem muito gosto! Não sei se vão colocar placa lá -
Honestidade e Competencia.
Aécio Neves é, rigorosamente,
um homem do seu tempo. Se ele aparecer com um piercing no nariz, um alargador
na orelha ou próteses subcutâneas todos compreenderão - é um jovem. E ele
próprio bateria no peito e diria - "Eu sou um jovem eterno". Todo
mundo sofre com a passagem dos anos, até o PT enrugou. Mas o Aécio... Eu
o vi, pela primeira vez, na TV, dando entrevistas e sendo fotografado quase
grudado no caixão do seu tio Tancredo Neves. Ali, havia mais flashes e mais
spots. Era um menino encantado com tantas luzes. E, de lá para cá, esse encanto
jamais se desfez. Foi feito deputado, presidente da Câmara Federal,
Governador de Minas Gerais. E, agora, quer ser presidente da república. Mas
sempre, sempre, sempre a mesma pessoa. Como diria a Professora Marlene
Fernandes, um jovem correndo atrás da utopia. Tem gente que é assim
obstinadamente jovem. Eu fico bobo... E, no caso do Aécio, ouso dizer, que ele
está cada vez mais jovem. Anda mesmo metendo a mão em cumbuca. Foi coisa
de menino imaturo esse seu breve entrevero com a não menos destrambelhada Dilma
Rousseff. Ela fez aquele incrível leilão de um pobre e solitário lance.
Aécio não perdeu tempo. Juntou a turma da imprensa e disparou seu
protesto juvenil: “Temos de reestatizar a Petrobrás e entrega-la
novamente aos brasileiros.” Foi na mosca. Tem muita gente que gosta disto.
Ainda lambia as pontas dos dedos quando o telefone tocou. Era o Fernando
Henrique Cardoso irritadíssimo. Nem ouviu saudação nenhuma; sentiu foi um coice
no pé do ouvido: “Fui eu que criei esses leilões, que o PT condenou e, agora,
aplica como se estivessem inventando alguma coisa”. E bateu-lhe o telefone.
Aécio ficou com um pedaço de desculpas dependurado nos beiços. Como o Aécio não
muda, não sabe que as coisas mudam. Ele não sabe, por exemplo, que o PT virou
uma espécie de PSDB do Paraguai.
O atacante Diego Costa meteu
bola nas costas de Luís Felipe Scolari. Ou não, como o diria Caetano. Felipão
não gostou nada, nada, da audácia do menino. Onde já se viu uma coisa dessas de
recusar um convite para vestir a amarelinha? Diego, entretanto, não achou nada
demais. Recusou o convite pronta e, porém, educadamente. Diego é brasileiro mas
nunca jogou no Brasil. Vive na Espanha onde é amado e saudado nas ruas como um
dos seus principais atletas; no Brasil, seria mais um disputando a mesma
camisa. Diego pensou, pensou, pensou e resolveu ficar onde estava. Pra
que! Felipão não teve os mesmos bons modos do atleta; virou bicho. Fez
lembrar Fidel Castro querendo de volta os seus boxeadores Erislandy Lara e
Guillermo Rigondeaux. Eles estavam no Rio de Janeiro, representando Cuba no PAN
e resolveram fugir da concentração. Autoridades brasileiras os caçaram como a
ratazanas e logo os devolveram em avião flertado na boca da madrugada. Presta
atenção gente que tem maus exemplos fazendo seguidores no Brasil.
Em 1982, Miro Teixeira,
deputado federal, começava a ser assediado por “Luas pretas”, um grupo
em cujas afirmações não se punham dúvidas. Se ele falasse que a lura era preta
todo mundo acreditava. Foi motivado por essas convicções que Miro
enfrentou Sandra Cavalcanti, no programa Aqui e Agora. Eram candidatos a
Governador do Estado do Rio de Janeiro e faziam o primeiro debate. Miro,
com todas as letras e nenhuma ressalva, acusou a professora de ter jogado, no
Rio da Guarda, mendigos e moradores de rua que viviam no Rio de Janeiro. Sandra
trouxe de volta para o segundo debate aquela mesma denúncia fielmente redigida.
Colocou-a diante de Miro e falou:”Trago as suas denúncias por escrito. Quero
ver você assinar!” Miro, sem pestanejar, falou – “Assino sem ler!” E assinou.
Veio o processo e ele foi condenado. Desesperado pediu a um amigo que fosse à
Sandra demovê-la daquela ação. Sandra, desprendida e generosa, aceitou a
retratação e retirou o processo. Ela é mesmo desprendida. Continua pobre,
morando numa casa modesta na rua Peri onde vive da aposentadoria. Vale a pena
lembrar uma história dessas, uma pessoa dessas, nesses tempos tão
bicudos.
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