Se me perguntarem o que vejo de
bom no AQUI VR responderei com absoluta serenidade: “É essa tabelinha que ele
publica semanalmente. Não perco uma!” A CSN quis nos engambelar com a
construção de um grandioso e moderníssimo shopping prometido para o final do
ano. Deu com os burros nágua. Tinha um jornal no meio do caminho/ no meio do
caminho havia um jornal. Apareceu a planta nos jornais. Deu no rádio e na TV e
agentes imobiliários já pensavam em novos investimentos. Era um entusiasmo só! Até
o Secretário Municipal de Planejamento, normalmente muito reservado, assinou embaixo, avalizando a promessa.
Ninguém duvidava mais a não ser a corajosa
voz do AQUI VR. Ele sabia que aquilo era papo furado e clamava sozinho no
deserto. Até que teve essa sensacional
ideia da tabela. Numa das suas páginas internas, punha em destaque o número de
dias que restavam para o cumprimento da promessa. Enfim, esgotou-se o prazo sem
que a CSN assentasse um único tijolo naquela obra. Parece até praga de mãe. E
mesmo que este dezembro fique se fazendo de junho, a gente sabe que o fim do
ano chegou. Palmas para o jornal! De nada valeu a conspiração com os astros. A
verdade tem força. É bonito este jogo de
prever o futuro. Bonito e pode ser muito útil. O AQUI VR podia experimentá-lo também
em outras direções. Por exemplo, ficar lembrando, semana a semana, quantos dias
restam para a implantação do Bilhete Único, a entrega da Rodovia do Contorno, a
inauguração do Hospital Infantil... No princípio, pensei eu mesmo fazê-lo mas
não levo nenhum jeito para a coisa. Confesso, sem nenhum pudor, que tenho falhado
redondamente em todas as previsões que faço. Achei, por exemplo, que a briga
desse jornal com o Jonas Martins não passaria de um mês. Passou. Apostei em
dois. Perdi. Como poderia me enganar tanto eu que venho de longe? Já tinha
visto a briga desse jornal com o Neto. Não durou muito. Talvez trinta dias. Talvez.
Dentro de um mês se resolveu tudo. Era Antonio pra cá, era Antonio pra lá... Até
que um dia o jornal voltou a chama-lo de Neto e, convenhamos, passou a trata-lo
também como neto com um desvelado carinho de avô. Quando eu vi o AQUI VR chamar
o Jonas Martins de Jonastonian eu gritei Eureka! E fiz aquela minha previsão furada
de que tratei linhas atrás. Errei feio! Torço para que acabem logo com isto. Tá
todo mundo vendo. Agora, só porque a árvore de natal de Barra Mansa tem uma
lâmpada a menos do que a árvore de Natal de Volta Redonda o jornal faz capa e
pergunta: “Qual cidade é mais feliz!” Sinceramente, eu preferia o Zezinho da
Ética que era mais discreto.
Kim Jonh-un acrescentou mais um
talho no seu coldre. Não ia mesmo perder a oportunidade. Ainda mais com um
personagem daquele quilate – seu tio Jang Song-Thaek, segunda pessoa mais
importante na Coréia do Norte. Tio emprestado, diga-se de passagem. E digo tio
emprestado por excesso de zelo de cronista que não gosta de deixar pedra sobre
pedra no que escreve. Mas o leitor, se tiver pressa, poderá pular esta parte.
Ela não interfere nas circunstâncias do fuzilamento. Pouco importava ser tio
emprestado ou tio de sangue. O importante é que era comunista e comunista gosta
de matar outro comunista. Nunca vi! A bem da verdade, Kim poderia ter ido mais
longe fuzilando também os seguidores do seu tio. Mas deixou-os escapar quem
sabe para uma outra vez. Apenas, os expurgou do partido. Jong, entretanto, foi
direto da primeira fila do Comitê Central do Partido Comunista para o pelotão
de fuzilamento. Dois militares o amparavam, um de cada lado, para que não
atrasasse muito a cerimônia. Morto o homem ainda cuidaram de enterrar sua
memória. A imprensa oficial o descreveu como um triplo traidor. Uma escória da
sociedade. Desprezível. Pior do que um cachorro. E, no entanto, era o segundo
homem do país. Depois da execução, vários pelotões de soldados desfilaram pelas
ruas com faixas vermelhas e letras brancas sustentando apoio ao governo:
“Mantemos em alta estima o camarada Kim Jonh-um”. Por via das dúvidas dezenas
de milhares de soldados acompanhavam a manifestação para ver se tinha alguém
debochando das faixas.
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