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Ilustração Blog Mudança e Divergência |
Maluf, definitivamente, veio para
explicar e não para confundir. Tá tudo junto e misturado. Quando ele falou que
também é de esquerda, minha vizinha teve
um estalo – “Ah, então é isso???” Ela é eleitora da esquerda. Há meio século
vota na Dodora. Mas, agora, eu não sei, não; ela anda muito agradecida ao ex-governador
de São Paulo. Foi ele quem lhe tirou a venda dos olhos. Deus, guarde o Maluf!
Enfim, ta todo mundo sabendo que esse negócio de esquerda é uma baita de uma corrente
que pega gente. Uma corrente que vai desde Fernando Henrique Cardoso, o mais
culto dos nossos ex-presidentes, até o Lula na outra ponta. Antonio Gramsci foi
quem os fez irmãos. Karl Marx tinha na guerra uma via expressa para o
comunismo. Gramsci, ao contrário, achava um desperdício perder tanta mão de
obra assim. Não! Precisava mantê-la viva e trabalhando. Bastava emburrecê-la. E,
depois, era só fazê-los carregar as pedras. Este projeto seria implantado com
dois tipos de agentes – o intelectual orgânico e o idiota útil. O primeiro
grupo, através de jornais, revistas, rádio, TV – enfiaria minhocas na cabeça do
segundo. Ao fim e ao cabo, famílias, igrejas, escolas, sindicatos e partidos políticos virava uma coisa só. Só
ouviriam a voz do dono. E, talvez, fizessem uma burocrático pedido de desculpa
aquelas montanhas e montanhas de cadáveres que deixaram no seu rastro: “Estamos
construindo um mundo novo. Desculpe a nossa falha.” E assim se faria uma
sociedade incapaz de se julgar a si mesma. Não haveria mais culpados ou
inocentes. Ou será que o distintíssimo leitor ainda vê alguma diferença entre o
PSOL e o DEM? Atentai para os exemplos: O Sr. Evaldo Pontes da Silva foi
exemplar. Amigo e vizinho do ex-bispo Waldir Calheiros quis louvá-lo mais uma vez
aos pés da sua estátua, recém inaugurada: o bispo “tinha a coragem e a garra do
Lampião”. Ora, Lampião era um bandido. Estaria o Sr. Evaldo fazendo confusão,
colocando os dois num mesmo saco? Não! Nada disto. É que o Evaldo é um homem
absolutamente inserido no seu tempo. Perdeu o senso. Lorenzo Aidé lança um
pouco de luz sobre o facínora: "Um homem armado invade uma
casa em busca de comida. A dona, humilde viúva da zona rural, não
tem o que oferecer. Tomado por um ataque de fúria, o invasor dá uma surra na
mulher e depois se volta para o jovem filho da viúva, que presencia tudo. Põe
então em prática seu gosto por rituais de sadismo gratuito: enfia o órgão
genital do menino numa gaveta e a tranca com chave. Depois, ateia fogo à casa.
Desesperado, o rapaz é obrigado a cortar o próprio pênis para salvar a vida. O
facínora responsável por esse crime hediondo é hoje um mito nacional: Virgulino
Ferreira, vulgo Lampião" Revista de História da Biblioteca Nacional). Basta?
Tem muito mais: A antropóloga Luitgarde Cavalcanti (A derradeira gesta: Lampião
e Nazarenos guerreando no sertão (2000)) diz que Lampião permaneceu 22
anos no crime só porque servia à classe dominante. O êxodo provocado por
suas crueldades refez o latifúndio no sertão nordestino. Somente após
1960, com a ascenção da esquerda no Brasil, a literatura de cordel muda o
destino da sua alma, mandando-a para o céu. Antes, ele era tido como uma pessoa
muito má e invariavelmente, mandado para o inferno. Pois é, o Sr. Evaldo é um
gramsciniano sem o saber.
“AGORA É NÓIS”
Capítulo 4
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Ilustração revista Veja |
“Vinde a mim, vós que tendes fome?” Foi, mais ou menos, isto que se ouviu da boca do Presidente Lula no dia da posse. Também, não era pra menos. Havia muito tempo que a igreja vinha catequizando militantes como quem arrebanha devotos. Santos e políticos se confundiam. Muita gente boa acreditava fielmente que Lula ia fazer a multiplicação dos pães. E ele reforçava a impressão: “País que conta com tantas terras férteis e com tanta gente que quer trabalhar não deveria haver razão para falar em fome”. Nascia o Fome Zero. Envolveu todo seu ministério. Em breve, iriam todos lançar o projeto lá em Guariba, no Piauí. O mais baixo IDH do Brasil.
Que viessem todos os que tinham
fome. O convite estava feito, mas não se sabia quantos eram os convidados. Para
Lula, entretanto, isto pouco importava. Lula é Lula e Frei Beto é seu profeta. Lula
mesmo estimou esse número em 44 milhões de boca – número maior do que a
população do RJ, MG e Espírito Santo juntos. Nas contas da OMS eram 7 milhões.
Criaram, então, um cadastro central que seria abastecido pelas secretarias
estaduais de assistência social. Funcionários das prefeituras saíram enfim
buscando e contando os famintos de cada município.
Em panela que muitos mexem não
fica bom o refogado. Não deu outra. Até dezembro estavam contados e
documentados 5,5 milhões de famintos, mais 5 400 sem nem ao menos o registro de
nascimento. Esperava-se um número maior para este segundo grupo. Nem os
próprios operadores da contagem o acatava. Frei Beto ficou de boca aberta. Mas
logo se recuperaram porque os dados no Brasil não são mesmo confiáveis. No
censo de 2001, o IBGE revelava que 22,8% dos mortos ainda figuravam como vivos,
nos nossos registros.
Na concepção petista, é preciso
que um perca para que o outro possa ganhar. Quem teria que morrer para o Fome
Zero nascer? Resolveram matar a comopra de 36 F16. Era um projeto autorizado
desde 2001. Coisa do governo passado, Fernando Henrique Cardoso. A FAB ficaria
sem os seus caça. Muita gente aplaudiu: Avião não enche barriga! Nem se davam
conta que era uma compra diferente. Comprar jatos não é como comprar feijão.
Não é só botar um saco no carrinho e pagar no caixa. Uma encomenda dessas leva
4 anos para ser atendida e só é paga contra entrega da mercadoria. E não pára
aí. Havia, enfim, mil argumentos para o Ministro da Defesa defender a sua FAB,
mas ele só pensava naquilo. Depois, Lula não parecia estar de brincadeira. Ele
próprio abrira mão do passeio à guariba com os seus 29 ministros mais os
costumeiros papagaios de piratas. Era preciso economizar para o Fome Zero. E
até apelou para a ajuda do povo. Sem o povo não se vai a lugar nenhum.
Era o terceiro apelo ao povo, na
nossa história recente. Em 1932, Revolução Constitucionalista, pediram para o “Dê
ouro para o bem de são Paulo”. A guerra acabou e construíram um prédio com o
dinheiro arrecadado. Em 1964 foi a campanha “Dê ouro para o bem do Brasil.”
Casais, cheios de ardor patriótico, trocavam suas alianças de ouro por
outras de latão, acompanhadas de um diploma de colaborador. Levantaram 400 kg
de ouro de que nunca se soube em que foram usados. Do Fome Zero se soube menos
ainda.
A Mercedez Benzz deu um caminhão
para o transporte de alimentos. A Organização das Cooperativas Brasileiras doou
24 mil toneladas de alimentos. Gisele Budchen entregou a José Graziano,
ministro de combate à fome, o seu cachê por um desfile. O cheque era para
o Fome Zero. O ministro o sabia. Entretanto, só o depositou 40 dias depois... A
campanha ia de vento em popa.
Eram de fato bons os ventos.
Dinheiro já não faltava. O Caso AGF ilustra bem o caso. Desde 1991 essa empresa
lutava contra o pagamento de uma dívida de R$ 46,4 milhões. Esgotados todos os
recursos judiciais, já não tendo mais como apelar recebeu o perdão do próprio
credor, que anulou sua dívida. Não quis receber nenhum centavo. O governo
federal era o autor da ação.