sábado, 1 de abril de 2017

A VERDADEIRA HISTORIA DO FAKE DE VERDADE






Volta Redonda nem parecia a mesma. Pelas ruas da cidade, ninguém falava na tarifa zero, ninguém falava na falta de dágua, nem nos tres secretários municipais que deram nos calos quando viram a coisa preta; só se falava no  chanceler do Qatar. Na nossa história nunca que o nosso prefeito conversava com pessoa tão importante. Agora, um chanceler de carne e osso viria nos visitar. As pessoas buscavam informações no Google e viam que o Qatar, um dos países mais ricos da península arábica,  era da hora. Mal cheguei em casa minha mulher ralhou comigo: “Meu bem, como é que você sai assim tão desarrumado, de chinelos?... Será que você não tá sabendo que a nossa cidade vai receber um chanceler?” Suponho que não precisa mais para dizer que a confusão era geral. Na prefeitura começou de véspera. O Prefeito Samuca Silva chegou em casa, quase sem respiração. Os olhos brilhavam e a mão suava. Parecia que ia ter um troço. A Sra. Silva abriu a porta e, antes de qualquer saudação, ele jogou-lhe a pergunta no colo : “Adivinha com quem vou conversar, amanhã!” Só podia ser alguém muito importante mesmo, Madame deduziu logo.  Arriscou palpites dentro das possibilidades - Torresmo? Zézinho da Ética? Abacaxi? Não passou nem perto. Estava fria. O prefeito então disse escandindo as sílabas: o chan-ce-ler do Qa-tar. Veio o grito da parte dela “Mentira!”. Não, não era mentira, não. E puseram-se a arrumar as malas. A primeira dama esbaforida, reclamou de ele andar varrendo ruas no cemitério… Agora, ele ia ter que tomar um bom banho. E que não se esquecesse de limpar debaixo das unhas e lavar bem atrás das orelhas.  Providenciaram uma buxa para ele se esfregar. E o prefeito tranquilizando, dizendo que tudo estava providenciado. Afinal, tinha quatro conselheiros, até destacou o Sérgio Boechat, o de maior salário. Disse que Sérgio tivera uma visão extraordinária. Recomendou que se comprasse uns galões dágua lá para a Prefeitura. Nunca se sabe o que pode acontecer. Foi até aplaudido. Sérgio animou-se e recomendou que o Prefeito fosse do aeroporto para o escritório do chanceler de bicicleta. O telefone tocou. A empregada gritou animada “Deve ser o chanceler”. Não era o chanceler; era o Sérgio Boechat dizendo pra não se esquecer de levar a bicicleta e o capacete. Enfim, o prefeito viajou e chegou lá. Da conversa saiu promessas de muito dinheiro pra nossa cidade. Ele viria a Volta Redonda para amarrar tudo direitinho. O prefeito voltou cheio de gás, contando e repetindo, repetindo, repetindo essa história. O Diário do Vale achou que era muita pipoca por dez centavos e descobriu que o chanceler era fake. Que coisa! Mas Samuca garante que não cai mais. Nunca mais, Diz que ficou esperto, que é outro, agora. Não sei. Sinceramente, não sei. Soube de fonte limpa que ao atender um telefonema no gabinete ele ouviu do outro lado: - "É o Severino, chanceler do Japão, filho do Virgulino da Serra da Barriga, em Tókio”. O prefeito bateu o telefone e falou pra todo mundo ouvir. Eu conheço essa voz; é o Neto. Tá pensando que me engana. Eu não sou mais bobo, não!

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