quinta-feira, 18 de março de 2010

Nós da Barreira Cravo - Volta Redonda

Barreira Cravo. Quem viu o bairro assim cheio de água na enchente não diz. Também não o dizem os que passam por aqui nos outros 364/363 dias do ano e vêem as calçadas arrebentadas pelas raízes que se alevantam, as árvores gigantescas, podres e ameaçadoras nas margens do rio e a pracinha onde as crianças se divertem saltando poças dágua. Enfim, essa gente adventícia que vê tudo isto não diz que temos uma Associação de Moradores. Mas a temos, sim senhor. E digo mais - associção em cuja presidência há uma pessoa que ocupa também assento na Câmara dos Vereadores e, the least but no the last, é amiga do Prefeito. É mole ou quer mais? Se não quiser usar o poder ou dispor da amizade, pois não? É pedir e ganhar. Mas, por via das dúvidas, livrai-nos Deus de todo mal. Ficai atento, Deus, porque as coisas não estão cheirando bem. Tô sabendo da pista de dança, do palco, e quiosques... provavelmente banheiro público, também – que tão fazendo ali na praça de nome Sansoni. Coitado. O Sr. Sansoni morava ali e tinha por essa mesma praça o zelo de um jardineiro. Queria para ali flores, árvores e grama. Nada que proporcionasse a algazarra. Ele mesmo muitas vezes cuidou da praça mantendo-a limpa das folhas ou de algum galho de árvore que por ali caía. Agora, bagunçaram tudo. Transformam a bucólica praça numa barulhenta micareta e lhe dão o nome de Praça Sansoni. Pobre Sansoni. Se ele fosse vivo, já teria descido aquela bengala nas costas de alguém. Ele era feroz na sua luta contra o barulho, e, Deus me perdoe, contra a bagunça. Agora, por tudo que fez, recebe esse reconhecimento às avessas. Isto é o mesmo que homenagear Manhatma Gandhi com um tiro de canhão. Contudo, o bairro tem desses problemas mas daqui não saio. Nada é para sempre. Um dia a Teresa passa. Que bom...
Daqui da minha atalaia, eu velo pelo bairro. E temos um outro inimigo que está me tirando do sério. É esse tal rio Bananal. Eu fui lá naquela estância e o vi modestamente contido no seu leito. E nem se aquieta quando aqui e ali os cachorros o atravessam de uma margem para outra com água pelas canelas. Mas o pessoal da Defesa Civil já descobriu tudo. É puro fingimento do rio. A água do Rio Paraíba sobe e eles logo apontam o dedo inquisidor – o culpado é o rio Bananal. Não adianta nada aquele afluente amazônico ficar disfarçado de córrego. Tá certo que engana muita gente. Tem uns implicantes, que pretendem distorcer a verdade – põem culpa na represa do Funil. Ledo engano. O culpado é o Rio Bananal. Quando ele se enfurece, ele engrossa. Aquela água lá da represa é um mero tanque diante do marzão em que ele se transforma. Creio em Deus pai.
A Defesa Civil de volta redonda está aterrando o rio para fazer sua sede. Tá bem ali na cabeceira da ponte na Ilha São João. Diante dos olhos de todo mundo. E, para que melhor possamos ver o a maravilha da obra puseram abaixo um monte de árvores que atrapalhariam a visão. Desmataram a beira do rio e fizeram um belo quintal. Igualzinho aos posseiros seus vizinhos do lado de cá. Só que os posseiros são mais tímidos - o fazem na calada da noite. A gente fica bobo como as coisas evoluem. Um técnico de lá – ah que pena que eu esqueci o nome dele – afirmou com a maior cara limpa que os moradores daqui da Barreira Cravo jogam dentro do bueiro o barro da enchente que fica em suas casas e com isto provocam sucessivas enchentes. Foi bem numa reunião. Eu fiquei esperando o pessoal rir. Ninguém riu. Esse pessoal não tem senso de humor. Fui

Um comentário:

elson sepulveda disse...

Vi este jornal aqui e gostei. Estou somente de passagem aqui em Volta Redonda. Humor fino e perspicaz. Sucesso