quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

MORALMENTE DESPREZÍVEL




Duas mortes recentes acentuaram a hipocrisia da imprensa. – as mortes de Fidel e Evaristo Arns. O primeiro, um assassino frio, cruel e sistemático; o segundo seu santo medianeiro, intercessor junto às coisas dos céus. Nem precisava disto. Os dois foram santificados em vida, ainda. Nem todo ditador tem essa graça. O Pinochet, pobre coitado. Nunca mirou mísseis contra os EUA mas sofreu o desprezo, o escárnio dos seus artistas, jornalistas, intelectuais e políticos. Fidel, entretanto, ah, o Fidel! Até implorou aos russos que acabassem com os americanos. No entanto, aquele mesmo grupinho americano o aplaudia, o venerava. Gente de duas caras. E, por mero reflexo, a nossa alma de cachorro de batalhão nos levava na mesma corrente. Daqui do Brasil, este santo padre uma vez mandou-lhe uma carta publicada no jornal Granma: "Querido Fidel (...) A fé cristã descobre nas conquistas da Revolução os sinais do Reino de Deus que se manifestam em nossos corações e nas estruturas que permitem fazer da convivência política uma obra de amor. Tenho-o presente diariamente em minhas orações, e peço ao Pai que lhe conceda sempre a graça de conduzir o destino de sua pátria. (...) Fraternalmente, Paulo Evaristo, cardeal Arns". Caramba! Olha, que quem vê sinais de amor numa tirania que fuzilou 17 mil cubanos e levou um país à miséria é um cardeal da igreja católica. Um gambá cheira o outro. D. Paulo nunca verteu uma mísera e solitária lágrima pelas vítimas do terrorismo. Foram muitas bombas, muitos justiçamentos, mas compadecimento nenhum. Não comoviam o padre. É. De nada adianta lutar contra a tortura por pura conveniência. Moralmente isto é desprezível.

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