domingo, 26 de fevereiro de 2017

UM HOMEM DE MORAL






Li as Confissões de Rousseau quando eu ainda era um ginasiano da Rede Municipal. Que paulada! Daquela leitura duas coisas me foram bem marcantes: O filósofo tinha zumbidos no ouvido e era um tremendo de um mau caráter. Rosseau era um crápula! Colocou seus cinco filhos no orfanato e nunca mais os procurou. Assim, pôde frequentar os salões, angariar benfeitores e conquistar  suas mulheres. Secadas essas fontes ele saía caluniando os dois, chamando-os de opressores. Apesar de toda essa torpeza cometida e confessada, ele  se considerava o melhor dos homens. O mal e a torpeza que cometera aqui e ali deviam ser debitados à sociedade. Rosseau era isto - o homem nasce puro e a sociedade o corrompe. Suas confissões deram corpo a uma nova moral. O bandido, muito ao contrário do que se imagina, é uma vítima da sociedade. E, quanto mais torpe, quanto mais vil, quanto mais infame, quanto mais facínora maior é a graça por ele merecida, maior o nosso débito com ele. Sabia-se, pela formação moral-religiosa, que a conversa era outra. O homem nasce impuro, fruto que é do pecado original. A vida é o caminho que lhe permitirá o aprimoramento. Os erros na caminhada serão os pecados e cada um deverá pagar pelos seus. A literatura atual abre espaço para o pensamento conservador e reacende esse  debate, que parecia vencido. Theodore Darypaul é um psiquiatra dessas vítimas sociais há tempos. Pelo que viu e vê, a política redentora está destruindo o que pretende construir. Ela os  convence de que eles sãos incapazes de prover a própria sobrevivência, mas a vida é um direito, como é um direito viver com dignidade, viver com conforto, morar bem… ter, enfim, tudo que se precisa para a felicidade. E, quando o Estado não provê essas necessidades, ele próprio sustenta os movimentos que as buscam - Movimento dos Sem Terra, Movimento dos Sem Tetos… Movimento dos Sem Iphone. Na esteira desses acontecimentos, um latrocida requereu e ganhou indenização por ter ficado mal acomodado no presídio. O Estado vai pagar o pato. O Estado somos nós. E são mais de 600 mil presos. Pouquíssimos deles em celas confortáveis. O SUS também está lotado. D. Maria Nascimento, 72 anos, está há quatro anos  esperando por uma cirurgia no joelho. Rosely Fernandes, 42 anos, enfrenta, diariamente duas horas de ônibus lotados nas idas e vindas do trabalho. Pode ser que ao fim e ao cabo de uns dez, vinte anos elas também sejam indenizadas. Quem vai idenizá-las? Elas mesmas, pois pagam impostos. Pois é. A crise moral é a maior das que vivemos. Entretanto, há militantes dos direitos humanos que acham que a coisa está bem do jeito que está. Esses militantes nos fazem mais mal do que os bandidos a quem tanto defendem. Melhor fariam se ensinassem a esses clientes o samba de Paulo Vanzoline:  “Um homem de moral não fica no chão/ Nem quer que mulher lhe venha dar a mão/  Reconhece a queda e não desanima/ Levanta, sacode a poeira dá volta por cima”  

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