Li
as Confissões de Rousseau quando eu ainda era um ginasiano da Rede Municipal.
Que paulada! Daquela leitura duas coisas me foram bem marcantes: O filósofo
tinha zumbidos no ouvido e era um tremendo de um mau caráter. Rosseau era um
crápula! Colocou seus cinco filhos no orfanato e nunca mais os procurou. Assim,
pôde frequentar os salões, angariar benfeitores e conquistar suas mulheres. Secadas essas fontes ele saía
caluniando os dois, chamando-os de opressores. Apesar de toda essa torpeza
cometida e confessada, ele se considerava o melhor dos homens. O mal e a
torpeza que cometera aqui e ali deviam ser debitados à sociedade. Rosseau era
isto - o homem nasce puro e a sociedade o corrompe. Suas confissões deram corpo
a uma nova moral. O bandido, muito ao contrário do que se imagina, é uma vítima
da sociedade. E, quanto mais torpe, quanto mais vil, quanto mais infame, quanto
mais facínora maior é a graça por ele merecida, maior o nosso débito com ele.
Sabia-se, pela formação moral-religiosa, que a conversa era outra. O homem
nasce impuro, fruto que é do pecado original. A vida é o caminho que lhe permitirá
o aprimoramento. Os erros na caminhada serão os pecados e cada um deverá pagar
pelos seus. A literatura atual abre espaço para o pensamento conservador e
reacende esse debate, que parecia
vencido. Theodore Darypaul é um psiquiatra dessas vítimas sociais há tempos.
Pelo que viu e vê, a política redentora está destruindo o que pretende
construir. Ela os convence de que eles
sãos incapazes de prover a própria sobrevivência, mas a vida é um direito, como
é um direito viver com dignidade, viver com conforto, morar bem… ter, enfim,
tudo que se precisa para a felicidade. E, quando o Estado não provê essas
necessidades, ele próprio sustenta os movimentos que as buscam - Movimento dos
Sem Terra, Movimento dos Sem Tetos… Movimento dos Sem Iphone. Na esteira desses
acontecimentos, um latrocida requereu e ganhou indenização por ter ficado mal
acomodado no presídio. O Estado vai pagar o pato. O Estado somos nós. E são
mais de 600 mil presos. Pouquíssimos deles em celas confortáveis. O SUS também
está lotado. D. Maria Nascimento, 72 anos, está há quatro anos esperando
por uma cirurgia no joelho. Rosely Fernandes, 42 anos, enfrenta, diariamente
duas horas de ônibus lotados nas idas e vindas do trabalho. Pode ser que ao fim
e ao cabo de uns dez, vinte anos elas também sejam indenizadas. Quem vai
idenizá-las? Elas mesmas, pois pagam impostos. Pois é. A crise moral é a maior
das que vivemos. Entretanto, há militantes dos direitos humanos que acham que a
coisa está bem do jeito que está. Esses militantes nos fazem mais mal do que os
bandidos a quem tanto defendem. Melhor fariam se ensinassem a esses clientes o
samba de Paulo Vanzoline: “Um homem de moral não fica no chão/ Nem quer
que mulher lhe venha dar a mão/ Reconhece a queda e não desanima/
Levanta, sacode a poeira dá volta por cima”
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