sábado, 4 de fevereiro de 2017




“Pedro, tome para si esta coroa, antes que um aventureiro lance mão”. O pai mandou e o filho segurou a barra enquanto pôde. Depois, até rompeu com a sede às margens plácidas do Ypiranga. Mas, segundo José Honório Rodrigues não foi naquela posição heróica em cima de um cavalo, não. Nem foi, separação amigável como soe acontecer entre alguns casais. O bicho pegou. Nos sessenta anos que precederam a proclamação da república, muita água rolou por baixo da ponte – farroupilha, cabanagem, sabinada, guerra do Paraguai... um monte de guerras. Até que um dia o Marechal Manuel Deodoro, que já era um sexagenário cheio de dispnéia e achaques foi procurado por uns republicanos. Era muito cedo. O sol ainda não tinha se levantado e nem nenhum galo cantado. E os visitantes ficaram ali enchendo de minhocas a cabeça do velho. Aí, ele se levantou e tentou montar um cavalo que lhe levaram; não conseguiu. Terminou indo de charrete. De frente ao ministério da guerra ele saudou a tropa, tirando e colocando o quepe diversas vezes. Por fim gritou: “Viva o Imperador! Viva o Imperador!” quatro vezes. Entrou no gabinete do primeiro ministro, Visconde de Ouro Preto, e botou, conforme se dizia antigamente, a boca no trombone. Reclamou das humilhações que os militares sofriam. Falou dos seus feitos na Guerra do Paraguai, falou dos sacrifícios dos soldados, falou que o exército não podia ser desprezado e tereré-tereré-tereré. Até que o visconde o interrompeu: “Olha aqui, seu marechal! Muito mais sacrifício estou fazendo eu aqui ouvindo as baboseiras de V. Excia!” Aí, foi a gota que faltava. O marechal o exonerou. Benjamim Constant, republicano de quatro costados ficou lembrando para mandar correr o imperador também. Deodoro, entretanto, achou que o serviço estava completo. Só à noite, ao saber que Pedro II tinha nomeado Silveira Martins como novo ministro foi que o Deodoro resolveu proclamar a república. Silveira tinha lhe roubado uma namorada no passado e o velho marechal achou que aquilo era um deboche. E assim começou a república.

Nenhum comentário: