segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

A VERDADE PROVISÓRIA



“Acautelai-vos com os idos de Março”. Dias fatídicos abominados pelos tementes às armações do destino. Mas o imperador Júlio César fez ouvidos mocos ao mago que o alertava. Dias depois, inda fez troça: “Os idos já chegaram”. E o mago, sereno como soe aos magos: “Mas ainda não passaram”. Julio César seguiu intrépido. Minutos depois estava morto crivado de punhaladas. Essas imagens povoavam a cabeça de João Goulart. O dia do grande comício estava chegando. Havia quatro meses um tiro arrancara o queixo do ex-presidente Kennedy que também tinha menos que cinqüenta anos, que também tinha uma mulher bonita e cujo nome também começava por J. Lacerda, Governador da Guanabara, decretara ponto facultativo. Deixou a segurança do ato por conta dos promotores da desordem. Faltavam dois ou três dias. Chamou o seu reduzidíssimo grupo de confiança para um churrasco. Estavam lá o Sr. Presidente da República e os membros do Gabinete Militar do Palácio do Planalto. Declarações de fidelidade eram servidas antes do charque. O General Assis Brasil, Chefe da Casa Militar do Planalto, tranqüilizava o presidente. Seu dispositivo militar garantiria a presidência até que se desse posse ao seu sucessor. Desde que seu sucessor não fosse Carlos Lacerda. Se Lacerda ganhar será uma vitória das forças reacionárias e isto não vai prevalecer no País (Carlos Castelo Branco, JB – 13/03/64). Mutatis mutandi, Lacerda foi o melhor governador que o Rio já conheceu. Em três meses garantiu vagas nas escolas estaduais para todas crianças em idade escolar. Criou a função de obrigatoriedade escolar, para processar por crime de abandono os pais que deixassem de matricular seus filhos (Na Era da Insanidade, Guimarães Padilha) . Sua folha de serviços é longa. Imagine, agora, uma escola com partido. Imagine, também que Lacerda fosse eleito e empossado. A orientação na escola mudaria ou não mudaria? Jango passaria de idolatrado para réprobo, cedendo a vez para Lacerda. E as crianças teriam que desaprender tudo porque a verdade havia mudado.

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